domingo, 25 de novembro de 2007

Os "tipos emocionais" e "O passado"...

Aqui em Salvador há as chamadas salas de arte. São salas que passam os filmes não comerciais ou pouco comerciais, e portanto (geralmete) mais interessantes do que os que a gente vê em todas as salas dos muitos cinemas dos shoppings. Um site que consulto pra ver programação é http://www.saladearte.art.br/ . E a programação geral vejo em http://www.cineinsite.com.br/
Ontem fomos ao Cinema do Museu (lugar legal, no museu Geológico (http://www.salvador2003.com.br/museus.htm)

Assisti com Mamy e Jan (minha irmã mais nova) o instigante "O passado".

"O passado" é um filme sensível do Hector Babenco com Gael Garcia Bernal ( que eu adoro e já vi em outros grandes filmes) e Analía Couceyro (Sofia), que não me lembro de ter visto antes, mas que é uma excelente atriz. As cenas em que ela faz com um simples olhar aquela cara típica das pessoas desequilibradas é demais! Fazer cara de doido não é fácil... assim, com tanta verossimilhança.

O filme é baseado num livro de Alan Pauls, que escreve uma história muito possível, embora singular, de um casal que se separa depois de 12 aos de casamento.
Das quatro mulheres que o personagem tem, três são complicadíssimas. A Carmen (Ana Celentano, na foto ao lado) é uma bela mulher, possessiva, ciumenta e mal resolvida... Como muitas possessivas ela faz coisas desnecessárias e inadimissíveis. Numa cena em que eles estão num restaurante simples, uma criança oferece um chocolate pra Rimini. Ela já fica visivelmente chateada. Depois a criança vem e oferece outro. Rimini faz um carinho na criança e Carmen dispara um absurdo sem tamanho: " Você quer chupar a b... dela?" Chocante essa violência psicológica! Ele fica pasmo e não responde nada...

As cenas de sexo não são excitantes. Aliás, sexo com o Rimini (Gael) é aquele sexozinho em graça que a maioria dos casais faz. Especialmente os com relação longa e desgastada. Também são cenas rápidas... Acho que a idéia era mostrar justamente isso... não é o sexo que alimenta as relações dele... são os problemas!

Ah, Paulo Autran faz um francês quase patético, mas com grande maestria. Há cenas que se passam em São Paulo também.

Gael é ótimo... gosto muito dele em "O crime do Padre Amaro"... especialmente por modernizarem a história (original de Eça de Queiroz que é um dos meus autores favoritos) e ele conseguir encarnar o padre do livro... Em "Amores brutos" Gael também dá seu recado. Em "Diários de Motocicleta" ele faz um Che carismático e apaixonante... Li recentemente um texto onde Che Guevara é mostrado como um tirano... nada do mito das camisetas. Mas todo ser humano, sem exceção, tem seu "lado B"... mas isso é outra história...

Não tenho nenhuma situação semelhante a do filme, mesmo assim me identifico com ele. É bacana observar como o personagem Rimini, é igualzinho a cada um de nós nas suas escolhas amorosas. É, porque eu acho que a gente "tende" a escolher certos tipos emocionais. Ele só se relaciona com mulheres difíceis!

Eu separei há cerca de 7 anos... gosto dos tipos organizados, inteligentes, que tem cuidado comigo, geralmente lêem muito (e é um programa bacana passar horas na cama lendo - risos) e gostam de relacionamentos duradouros. São também articulados, carinhosos, sedutores e quase sempre me amam de verdade. Esse "tipo emocional" também costuma respeitar minhas decisões, não pegar no eu pé (até porque estabelecer limites faz parte do meu "tipo emocional") e resolver tudo no diálogo.

Nos meus 13 anos de casamento (casei aos 16! Coisa que não recomendo a ninguém!) acho que tive umas três brigas com meu ex...

O "tipo emocional" que me atrai é calmo, paciente e me deixa falar até a exaustão, quando estou arretada... ou seja, o clássico "quando um não quer, dois não brigam". Detesto briga, cobrança, ciúmes e atrasos... Isso fica claro logo o início... então, o "tipo emocional" também vai se moldando às minhas preferências... e eu às dele, que relacionameto é algo construído e nunca acabado. Quer dizer, quando "acabado", tem mais é que partir pra outra e c´est fini! Mas muitas pessoas não conseguem! E sofrem, porque os masoquistas emocionais adoram sua dor!

Lendo assim, parece fácil. Parece então que quando a mulher fica com um safado que a trai sistematicamente, ela que escolheu esse tipo. Em se tratando de relacionamento nada é tão certo... mas eu ainda acho que há uma certa busca por determinados tipos sim! Observe na prática. Parece que algumas pessoas só fazem a escolha errada. E a questão é sumariamente essa: a escolha. Um tipo machão, que não respeita minha liberdade, não vai funcionar comigo! Não vou sequer me interessar por ele... a sensibilidade é um verdadeiro "pré-requisito" pra mim... então, no meu ponto de vista, a gente escolhe sim... e atrai também. Que tipo de pessoas você anda atraindo?

Pessoas carentes tendem a fazer mais concessões. Pessoas inseguras tendem a ser ciumentas e controladoras. Pessoas reprimidas tendem a ser metódicas... enfim, nada é fechado assim... mas dê uma pensada nas pessoas que conhece... Tudo tem uma gênese... uma raiz que explica os frutos...

E aí vem a questão da auto-estima. Se a sua auto-estima estiver detonada, você é um (a) candidato(a) a se relacionar com alguém que vai te magoar. É como se tivesse um letreiro verde fosforescente na sua testa dizendo "Pode machucar... eu vou permitir." É, porque pra mim, as pessoas fazem com a gente o que nós permitimos que elas façam...

Então, somos os responsáveis diretos de tudo que acontece de bom ou de ruim na nossa vida... A vida afetiva pode ser um fiasco, mas ela pode ser boa também. Ficar só é também uma escolha. Na busca por companhia a qualquer preço, muitos mantém um casamento pela estabilidade e comodidade. Muitos mantém um namoro morno e sem sal... e muitos mantém também uma vida dupla.

A relação ideal pra mim (que existe e é possível) baseia-se na honestidade e na liberdade de não nos descaracterizarmos para atender ao desejo do outro. Podemos, como numa "balança de pratos" ceder aqui e ali pelo equilíbrio da relação, mas tem que ficar muito claro o porquê de estarmos cedendo... e que não cederemos para sempre e nem em toda situação. O outro também tem deve fazer concessões. E essa história de tirar a liberdade porque está namorando ou numa relação, não faz sentido para mim.

Manter a liberdade, manter a autonomia e respeitar as diferenças é primordial! Foi-se o tempo que o marido era o "senhor"... Ah, e um detalhe muito importante: trabalhe! Ganhe o seu dinheiro. Pessoas que dependem financeiramente do outro tendem a ser manipuladas justamente por esse ponto. Quem se sustenta (e as mulheres no Brasil têm possibilidades de fazer isso e têm cada vez mais se tornado "chefes de família"...) não aceita violência emocional ou física da mesma forma de quem é dependente financeiramente. Claro que há casos e casos, isso aqui não pretende ser a "realidade" do comportamento feminino, mas a "permissividade" caminha junto com a dependência...

A dependência emocional é algo cruel. É como uma droga viciante em que o usuário não se sente capaz de viver sem ela. Nunca dependi de ninguém porque não faz parte do meu "tipo" essa característica... mas pra você saber qual seu tipo, tem que conhecer-se... porque quem vive com a gente, até mesmo filhos ainda pequenos, nos conhece. Sabe até onde pode aprontar. A gente também sabe que tipo de "infrações" o outro vai aceitar, não sabe?Então...

No mais, os semelhantes se atraem. Pessoas muito diferentes em padrões de comportamento, cultura e projeto de vida, tendem a ter mais conflitos. E o conflito é algo complexo.

O Rimini gostava mesmo de mulher complicada porque ele também é um complicado... Mamy sempre diz que alguns casais ficam juntos por causa do problema e não porque busquem a felicidade. Reconheço que algumas pessoas são como caça-palavras pra mim... outras são labirintos... eu sempre me apaixono pelos labirintos... são complexos, sim, por que não? Mas que desfio oferece um mero "caça-palavras"?

Mas não me magoam... eu termino uma relação que não me traz mais alegria. A gente se magoa quando o outro não nos dá o que queremos, não é? Prefiro não acalentar algo que está morrendo... mesmo que esteja muito vivo em mim!

Fico só por muito tempo... talvez alguns me julguem exigente... mas a gente aprende a caminhar na vida pelas ruas que nos levam a algum lugar. Passar pela vida sem objetivos também é um maneira de supervalorizar a busca emocional. A busca da felicidade também deve incluir satisfação profissional.

Nada está completo em mim ainda. Sou um mosaico de pequenas coisas que se alternam... mas o desafio é montar esse mosaico... para que ele se torne um conjunto harmônico...
O coração é um terreno muito vasto e caprichoso. Mas a mente é um terreno ainda mais vasto...

Bom, hoje é domingo... um sol maravilhoso... por que você não vai à praia? Aí não tem praia? Lamento, isso é grave! Mas há sempre outras soluções! Aproveite!!! O dia de hoje não tem reprise!

Amazona



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