sexta-feira, 21 de julho de 2017

Gota a gota

Se eu não sofrer agora
E sangrar, continuamente
Gota a gota, lentamente
Castrarei
Internamente
Tudo que restar
Da gente...
É tão frio
Esse meu sangue quente
É tão raso
Esse sentimento aparente
Que de fiel
Me torno descrente
De imortal
Me torno vivente...
E de predadora
Me torno, docemente
No alvo fácil
Pro teu poder aparente...
De dissipar, vorazmente
Um sentimento crescente
Me diga
Simplesmente
O que você não sente?
GUEL PINNA em 17/03/2008

quinta-feira, 20 de julho de 2017

DO CAOS A APPLE: O CONHECIMENTO NÃO É MAIS PECADO

Para estas interrogações: "Revolução e mídias sociais? Quem faz a revolução? Sujeitos ou ferramentas? Guerrilhas cibernéticas?" (LEMOS, 2017) novos questionamentos surgem.

Não é uma questão de ferramenta apenas, no entanto sem elas, como os sujeitos criaram todos os novos arranjos sócio-interativos?

Mas e esses sujeitos, caso a internet acabasse hoje, como ficariam? É possível viver sem as comodidades e possibilidades de interação, compartilhamento e reconfiguração em que mergulhamos?

E é possível que um dia, quando não mais estejamos lutando por dinheiro e poder, irmanados pelo conhecimento, possamos realmente promover uma grande revolução. Afinal, com todos os avanços, não desapegamos das necessidades egóicas que nos fazem romper com nossa natureza sutil. Tudo nos separa: classes sociais, religião, localização geográfica, etnias, gênero, cultura, política, saberes, ideologias... Mas hoje temos algo que pode nos congregar quase que instantaneamente. Quebrando todas as barreiras que construímos ao longo dos séculos. Será que estamos preparados para essa transição e transformação? E isso interessa?


Não quero provar nada pra ninguém, pois certezas e verdades nunca foram o meu forte. Mas existe uma intencionalidade. Pois o objetivo sempre foi contribuir para o conhecimento e não apenas trazer ou replicar mais informação. Já que:

A informação é cumulativa e o conhecimento é seletivo. Há pessoas que dizem que navegam na internet e não é verdade. Uma parte não navega, uma parte naufraga. Porque pra você navegar você tem que ter clareza para onde você vai. [...] E há muita gente que é soterrada por muita informação de muitas fontes mas não as seleciona. [...] Conhecimento é inesquecível. Eu nunca fiz prova sem consulta. [...] Eu jamais perguntaria numa avaliação o que estava escrito no livro. Se já tava escrito, o que me importava que eu alguém dissesse o que já estava escrito? O que eu perguntava era a conexão daquilo com a vida da pessoa. E aí é claro que ela podia consultar o outro. O conhecimento e a ciência se produzem coletivamente. (CORTELLA, 2017)



Agora que saímos da caverna de Platão, entramos nela "para sempre forever " novamente? Será que agora estamos na complexidade que interpenetra o mundo sensível e o mundo inteligível ao mesmo tempo, sem fissuras?
As coletividades cognitivas se auto-organizam, se mantém e se transformam através do envolvimento permanente dos indivíduos que as compõem. Mas estas coletividades não são constituídas apenas por seres humanos. Nós vimos que as técnicas de comunicação e de processamento das representações também desempenham, nelas, um papel igualmente essencial. É preciso ainda ampliar as coletividades cognitivas às outras  técnicas, e mesmo a todos os elementos do universo físico que as ações humanas implicam”. (LEVY, 1995,  p.144)
Discutirei ecossistemas cognitivos apropriadamente depois e me predisponho a explorar os tipos de relações no âmbito dos nichos e fazendo o contraponto entre os fatores bióticos (nós) e os abióticos (ferramentas, internet, etc). Só estou estudando cibercultura há poucos meses e não dá pra aprofundar ainda. Mas esse "espalhamento" de coisas aqui no blog me ajuda a organizar o pensamento. Porque convenhamos que é muita informação! Se eu só lesse Levy, já teria muita bala pra disparar. Mas o objetivo não só esse. 

Eu acredito na "educação permanente", na atualização do conhecimento, na "alegria de aprender" e na "neocultura", pois:

Nul doute qiue dans l/histoire de Ia formation Ia période ou Pinstruction était concentrée sur Ia jeunesise será consideirée comme 'paléoculturelle'. L'ère de Ia 'néoculture' commence à partir du
moment ou toutes les formes. d'instiuiction et de culture peuvent être dispensées à tous les hommes et à tous les ages. ARAMAND, apud ROCHA, 2017, p. 46)

A presente geração é sem dúvida vítima da carência de ajustamento das concepções de educação, o que leva muitos dos alunos a perder, ou mesmo a nunca adquirir, a alegria de aprender. [...] Assim, como consequência do progresso científico e tecnológico, processam-se, a ritmo acelerado, transformações sociais, económicas, políticas, culturais e morais que exigem um constante ajustamento de coneqpções e de atitudes, o qual se realizará tanto mais facilmente quanto mais amadurecida for a compreensão que o indivíduo tiver de si mesmo e do Mundo que o rodeia. Se sempre foi reconhecido que só ao longo de toda a vida será possível a apropriação de uma sólida formação geral, as condições da sociedade moderna impõem que se vá além e se institua a educação permanente com carácter sistemático. (ROCHA, 2017, p. 47)
                     
Que bom que Julio Plaza (2017, p. 40) me compreende, já que : "A apropriação pelo artista de esquemas representacionais de cunho científico constitui-se num recurso lícito e necessário, de caráter intertextual, que, transposto para uma nova ordem (mesmo que seja desordem), servirá ao artista para pensar e elaborar as suas idéias e/ou modelos mentais." Isto porque  o próprio pensamento já é "intersemiótico", ou seja, o verbal e o não-verbal interagem nele. Estes aspectos servem para demonstrar a "capacidade tradutora do cérebro humano em relação ao tema que nos ocupa, ou seja, a colaboração entre o sensível e o inteligível. Estas capacidades interpenetram-se e traduzem- se para detonar a criação, o pensamento interior."

Por outro lado, há inúmeros signos icônicos e diagramáticos que contem traços pan-semióticos e que agem como verdadeiros princípios ordenadores espaciais e temporais que, como a Secção Áurea ou mesmo a série de Fibonacci (entre outros), foram usados em todas as artes: arquitetura, cinema, pintura, cerâmica, música, escultura, gráfica, fotografia, instalação etc... [...] Isto, porque o artista é sensível às aparências da representação científica, que é o lugar onde se instala a dimensão estética da ciência. Assim como existe na ciência uma estética do simples (os retângulos áureos de Gustav Fechner, por ex.), existe também uma estética do complexo (as metáforas entre um chip e diagramas utilizados nas diversas culturas que sugerem a relação analógica e metafórica que procura assimilar o menos ao mais familiar, o desconhecido ao conhecido), como íntima conexão entre imagens visuais e poéticas e o pensamento sensível e produtivo de outro. (PLAZA, 2017, p. 42)

Então vamos especular mais um pouco, já que o conhecimento, classificado em empírico, filosófico, religioso e científico realizam cruzamentos "intertextuais" entre a ciência e  a arte. Não posso seguir um fluxo só, mas correlacionar diferentes aspectos. Aqui o eixo da discussão é o conhecimento, mas contextualizado na prática e na sociedade, daí a necessidade trazer um pouco de empirismo.

Nosso planeta tem cerca de 7,6 bilhões de pessoas, sendo que o Facebook, se fosse um país, seria somente o mais populoso do mundo, seguido pela China e a Índia. A China inclusive tem seu Reren e toda uma gama de xing ling midiático! Quem cria copia, eu diria!

E em Cuba? Como se dá a relação com o conhecimento e a internet? Bom, lá não se bloqueia tudo como se possa imaginar, em compensação, a internet é mega-lenta e um cartão para conexão é muito extorsivo para o salário que as pessoas recebem. Então, as limitações e controles nem sempre são exercidas  de forma direta, mesmo em regimes totalitários... E pensar que a uma revolução com base nos pressupostos marxistas-leninistas puseram Fidel lá, para sair só depois de morto e passar sua capitania hereditária para o irmão. Pobre Cuba de gente letrada e boa saúde, porém privada da mais importante premissa do cidadão: a liberdade!  Será que a internet quando melhorar por lá promoverá uma nova revolução? Vamos esperar pra ver porque a Google já está na área para prover a velocidade!

Mas quais são as características de uma revolução e desde quando ela acontece na história da humanidade?  Remonta ao Caos e a Gênese e esbarram em nós com a cultura digital? Vamos ver:
A primeira revolução humana, admitindo Deus, a criação e a Bíblia, seria a expulsão do Jardim do Éden por uma espécie de desobediência civil. O paraíso era perfeito, lindo, maravilhoso, mas lá havia uma árvore, bem no centro,  com lindos frutos que não deveria ser tocada. E havia também a tentação, então podemos supor que o "mundo" nunca foi  livre da maldade e das diferenças, já que Eva já nasce como "apêndice " de Adão.
E o que dizer de pessoas inocentes convivendo com um ser que os tentou? Por si só já é bem cruel, não é?  Mas quem criou a discórdia? Na mitologia grega, seria a personificação de Éris e no catolicismo, vocês sabem quem.
E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal.
Gênesis 2:9
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Fig. 1 - Deuses e livros sagrados. By Carlos Ruas.

As metáforas e os mitos dão muita margem a interpretação. Vamos explorá-las! Aliás, vamos brincar com elas, porque a seriedade das coisas não me atrai todos os dias.
Por que as mulheres vivem um regime onde a igualdade de direitos ainda não é plena? Isso tem a ver com dominação, poder, política e a base de tudo que estruturou o pensamento da história antiga: a religião.

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Fig. 2 - O "criador" da Apple. By  Bill Watterson

Existe maçã no texto bíblico? Nada!  Quem criou uma das maças atuais, a Apple foi o Steve Jobs e seus colegas!!! Deus criou a baleia no quinto dia, daí elas serem tão inteligentes. Aí vem alguém e cria a Baleia Azul... Existe uma certa concorrência entre as pessoas que criam, sabe? E foram criados no Brasil a Baleia Rosa e a Capivara Amarela, justamente para combater o terrível jogo de suicídio!
O conhecimento é algo realmente muito "perigoso" e em plena era da inteligência cognitiva coletiva, ninguém mais conseguiria nos controlar. Quer dizer, a  Google ainda pode, dentre outras mega-empresas.

Mas ainda surgirá algo maior, mais forte e mais abrangente? Certamente. Aguardem!Lembremos que os simoníacos estão em toda parte e os robôs inteligentes  estão cada vez mais próximos de nós! 

E quem sabe  ainda possamos ser finalmente contactados com alguma inteligência extra-terrestre! Absurdo? Só porque a ciência não provou ainda!? Pois é meu caro, já tivemos a época da terra plana e do sol girando ao nosso redor. Se Galileu não fosse quem foi... Enfim, cada época tem seu Giordano Bruno, seus paradigmas e sua fogueira particular. Ok, tou meio Nostradamus, não podemos esquecer que escrevo ficção científica, portanto,  deixemos as profecias se aproximarem também. Por que não?

Mas, numa situação em que a ciência está à procura de novos modelos de interpretação da complexidade universal regida pelo "princípio de indeterminação" (Heisemberg), numa situação, onde tanto a filosofia quanto a própria arte estão em crise, é porque os modelos de representação e determinação do conhecimento e sensibilidade não são mais adequados. De fato, como os fenômenos para os cientistas ou são complexos demais, ou estão fora do alcance dos instrumentos e tecnologias, não podem ser codificados. Parece que é aqui que a sistematicidade harmoniosa e teleonômica da omniciência clássica (o paradigma newtoniano que procura as regras imutáveis do universo - Prigogine, 1979) entra em entropia, abrindo-se caminho para a ambigüidade, o caos, a desordem, a indeterminação, a confusão e também para a interpretação estética. (PLAZA, 2017, p. 40)

Não pense que andei vendo muito  Black Mirror  entre outras coisas que realmente li, ouvi e vi. Não se trata nunca disso. Talvez eu seja panpsiquista e acredite no anima mundi e também no unus mundus, formulando que a internet nos proporciona essa conexão defendida desde Platão a Jung. Talvez eu pratique hipnopedia de vem quando também!

Talvez eu esteja tendo uma concepção diferente e acredite fortemente que a educação de adultos se dá de forma diferente e rejeite as caixas em que se armazenam o conhecimento e as misture todas para produzir um "complexo vitamínico" do conhecimento.

E á claro que sinto uma " simbiose entre o abstrato e o concreto" permitindo que as "facetas científicas, profissionais, humanas, sociais"  e tecnológicas sejam a base para uma aprendizagem significativa, que  "exige instrutores muito dotados e bem preparados." (ROCHA, 2017, p. 55) 

Quando se deseja comer da árvore do conhecimento, a saciedade nem sempre vem! Mas que bom que isso não é mais considerado pecado. Aliás, não acredito mais em pecado. Nem em inferno... Dentre outras coisas. Analise a tirinha abaixo. Qual a subliminar?

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Fig. 3 - Fruto proibido 9 - By Carlos Ruas.

Pensando bem, e saindo da abstração para a realidade brasieleira, sabemos que a religião não da conta de tudo!  No entanto, em se considerando o Congresso, um grupo religioso está presente em uma bancada inteira no Congresso, possui canais midíaticos próprios, move somas sólidas e estende seus tentáculos em várias direções. Tanta preocupação com o céu e não deixa de fazer logo a colheita por aqui, não é?

E são muitas as religiões e seus seguidores. Para algumas coisas, fãs são mais "fiéis" que "crentes".

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Fig. 4 - Selfie dos heróis. By Pedro Leite.

E a fé cega leva a mais problemas, para além do conhecimento! Lembremos também que os movimentos terroristas estão presentes em muitas religiões e  não só de Al-Qaeda, Boko Haran, Estado Islâmico, Talibã, ETA, FARC e Ira vive o nosso mundinho pós-moderno. 

Novos deuses surgiram... Criando universos próprios e nos fazendo entrar nos seus mundos de tal forma, que não queremos deixar esses paraísos artificiais. Eu mesma sou fã do Universo Marvel e DC Comics. Recomendo verem a Mulher Maravilha! Tá massa! Para além de tudo isso, fica a questão: Eram os deuses astronautas?

Fim dos tempos? Desde sempre esse tema nos incomoda. Motivou Bosch a traduzir tudo isso em imagem e levou  Alighieri a penetrar seus nove círculos. Cada um na sua genialidade.

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Fig. 5 - O Jardim das delícias terrenas By Bosch. (1504)
A inteligência coletiva cognitiva vai requerer toda uma educação e novas aptidões e competências. Não digo que será o paraíso na Terra ou o fim da diferença entre ricos e pobres, mas faremos progressos definitivos, como já aconteceu em outras eras na história da humanidade. (LEVY, 2015)
Podemos considerar a revolução tecnológica uma das mais significativas por  seu potencial de agregação, inclusão e participação. Isso pressupõe democracia, mesmo que guardadas as reais proporções, saibamos que isso é uma utopia.

Então, se o simples bater de asas de uma borboleta pode mudar a natureza e causar impactos do outro lado do mundo, o que dizer da internet e dos sujeitos ímpares que a utilizam, somando-se, multiplicando- se e dividindo-se? Numa palavra, podemos falar de uma certa onipresença.
Mas depois de pensar tudo isso, eu quero ir pro panteão e também criar um novo termo, tentando aprofundá-lo oportunamente. Vivemos a era de uma  "polipresença" singular e plural, estando em vários lugares ao mesmo tempo por meio dos objetos que medeiam nossa corporiedade e limitações físicas. Mas também, não deixa de ser uma mimesis, pois não somos exatamente iguais em todos os contextos. E existe coisa mais poderosa do que sermos diferentes e miméticos com autorização dos nossos pares e da nossa sociedade? Como uma espécie de mimeopresença ou mimeopersona. É isso! A maior revolução de todas é a do nosso comportamento frente a tecnologia. Um caminho sem volta!!

Guel Pinna

19.07.17   06:24h


PS - Esse texto é para todos os tipos de leitores. Recomendo que não deixe de "ler" as imagens e  refletir sobre elas. Se conseguir compreender os vídeos, melhor ainda. O texto é  só um dos aspectos. 
Mas é um hipertexto! Você não consegue acompanhar tudo que está na subliminar sem ver o todo, consegue? Pois então! Não deixe de ver a bibliografia também. Retalhos dos autores nessa costura aí também não fazem sentido sozinhos! Isso é um estilo "transmídia"? Ainda não. Mas certamente que é um estilo.

Por outro lado, há inúmeros signos icônicos e diagramáticos que contem traços pan-semióticos e que agem como verdadeiros princípios ordenadores espaciais e temporais que, como a Secção Áurea ou mesmo a série de Fibonacci (entre outros), foram usados em todas as artes: arquitetura, cinema, pintura, cerâmica, música, escultura, gráfica, fotografia, instalação etc.. A apropriação pelo artista de esquemas representacionais de cunho científico constitui-se num recurso lícito e necessário, de caráter intertextual, que, transposto para uma nova ordem (mesmo que seja desordem), servirá ao artista para pensar e elaborar as suas idéias e/ou modelos mentais.

E se ninguém te contou, eu não quero induzir você a uma conclusão e muito menos oferecer uma resolução das coisas abordadas. Se ao menos uma interrogação surgir aí na sua cabeça, pronto, atingi meu objetivo.

Também quero que a fundamentação seja baseada em vários tipos de referências e não apenas em textos acadêmicos. Daí a recorrência a fatos históricos, movimentos, vídeos, reportagens, tirinhas.. . ARTE!  E "a arte não se doa ao mundo como informação semântica, mas como informação estética." (PLAZA, 1998, p. 40

Mas como eu agora (20.07) resolvi explorar didaticamente este post, vamos lá! Avaliação da aprendizagem pra conferir se você aprendeu com isto aqui. Em parênteses estão algumas das disciplinas em que a pergunta se insere.

Exercícios


Antes de ler o texto, aproprie-se das tirinhas. Leia  todas e a partir delas descreva quais os temas abordados e o que você sabe sobre eles. (Língua Portuguesa, Semiótica)
1.    O que você entende por revolução? Cite as que você conhece e o que as motivou, em que época aconteceram, como foram difundidas entre a população e quais seus líderes e suas ideologias. (História, Sociologia)

2.    Em a República de  Platão, temos o seguinte diálogo: (Filosofia, Linguagem, Comunicação)
    "Sócrates — Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?          
Glauco — É bem possível.                                                                                        
Sócrates — E se a parede do fundo da prisão provocasse eco sempre que um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?
Glauco — Sim, por Zeus!
Sócrates — Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados? "

A partir da leitura do texto acima  e após assistir o vídeo linkado, estabeleça relação com  entre a alegoria da caverna e afirmação de Levy  em que: "Nós vimos que as técnicas de comunicação e de processamento das representações também desempenham, nelas, um papel igualmente essencial."

3.    Analise a seguinte premissa: "Nosso planeta tem cerca de 7,6 bilhões de pessoas, sendo que o Facebook, se fosse um país, seria somente o mais populoso do mundo, seguido pela China e a Índia." (Cibercultura, História, Geografia, Sociologia)
 Quais sãos as características de um país que podem ser também encontradas na rede social Facebook? Elabore uma resposta dissertativa citando quem seriam os líderes, origem da população, que línguas seriam faladas, que tipo de cultura existiria, moeda, regime de poder, densidade demográfica, dentre outros elementos. (Cibercultura, História, Geografia, Sociologia)

4.    Analise a tirinha 1, "Deuses e mitos sagrados" e concorde ou discorde na afirmação de que um livro sagrado comprova a existência de um deus. Existe um único deus para você? Por que? (Teologia, Filosofia, Sociologia, Linguagem)

5.    Na tirinha 3 , "Fruto proibido", são retratados 5 figuras ilustres do conheciemento em diversas áreas e  que comeram a maçã. Você é capaz de reconhecer quem são e quais suas teorias? Qual sua opinião sobre a tirinha?

6.    Comente o uso das redes sociais a partir da tirinha 4, a "selfie dos heróis". (Cibercultura)

7.    O que esse texto diz sobre o conhecimento? Sublinhe os parágrafos que abordam essa temática e construa seu entendimento do que é  conhecimento. (Epistemologia)

8.    Realize uma crítica aos temas que você achou polêmicos no texto. Pesquise na internet os termos desconhecidos ou pouco familiares para você. (Linguagem)

9.    O que você pensa sobre os regime socialista de Cuba e da China? (Sociologia, Política, História) O que pensa sobre eles?

10.O termo "guerrilhas cibernéticas" foi explorado no texto? Como você contribuiria para o conhecimento para este tema? (Cibercultura)

11.Analise a imagem de Bosch (figura 5) e após ver os 3 vídeos e 2 textos linkados, descreva que sensações lhe trouxeram. A que escola pictórica ela pertence e qual sua mensagem? O que o rei Felipe II buscava? Qual a diferença entre Renascimento e Classicismo? Organize esses elementos e disserte sobre o papel da religião e da arte no conhecimento. (História da arte, Semiótica, Teologia, Filosofia, Epistemologia)

12.Para você, qual a maior revolução que já existiu ou existe? Por que?



13.Elabore uma questão e a responda com base no texto.
Pronto, feita essa avaliação transdisciplinar, estamos prontos para discutir o que foi possível aprender com o texto , realizar uma auto-avaliação e fazer novas conexões.

REFERÊNCIAS

LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. tradução. Carlos Irineu da Costa, 2º ed., Editora 34, Rio de
Janeiro, 1995.

PLAZA, J. Arte/Ciência: uma consciência. Disponível em: Acesso em: 20 jul. 2017.


Cued memory reactivation during

sleep influences skill learning


segunda-feira, 17 de julho de 2017

Confissão


Eu preciso dizer que te admiro
Que te percebo constantemente
Mas eu sou sol,
Somente...
Apenas,
Semente...
Sóbria,
Latente...

Eu preciso dizer que tenho calma
Pra pescar tua alma
E te suster por um fio
Displicentemente...
Não é difícil
Nem impossível
Mas é um desafio
Crescente
Desprovido de cio
Descartado da mente
Intercalado por escadas
Com degraus intermitentes
A gente sobe e desce
E não sai do lugar
A gente cai e esquece
De ir a algum lugar...

Que pena!
Eu só posso lamentar...
Infelizmente...

Eu preciso dizer que não entendo
Que mesmo te vendo
Eu não te enxergo...
Mesmo te tocando
Eu não te sinto
E mesmo buscando
Eu não te acho
Portanto, faça o que eu digo
Mas não faça o que eu faço....
Porque essa coisa insólita
Tem um preço baixo
Estou disposta a pagar
Pra apagar o teu rastro...

Salvador, 27/02/08 20:44h
GUEL PINNA

PS - Nunca mais tinha ido no Recando das Letras. Tem 58 poemas meus lá. Vou ver se organizo isso pois os poemas estão soltos aqui, no face e lá tá mais organizado.

sábado, 15 de julho de 2017

O sorriso de Machiavelli


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Conheci Maquiavelli num chat que discutia a bandalheira que a classe política brasileira está promovendo com assistência de um judiciário igualmente corrupto-partidário e a anuência dos fatos por um povo passivo, analfabeto politicamente e com síndrome de vira-lata.

Ele se posicionava ideologicamente de uma forma singular e em pouco tempo, os 8 usuários on line não mais tinham como debater contrariamente às suas ideias. Ele tem um jeito de dizer as coisas de forma simples, porém complexa. Sabe fazer a gente aceitar suas ideologias sem precisar se impor, como gênio que é. E me encantou sua simplicidade e até mesmo humildade, que é adornada por uma fala mansa e pausada.

Ele disse que no passado as pessoas costumavam oferecer "cavalos, armas, tecidos de ouro, pedras preciosas e outros ornamentos semelhantes" ao rei, para com isso amealhar a sua simpatia, no intuito de obter algum tipo de vantagem pessoal.  [...] "O Conhecimento das ações dos grandes homens apreendido através de   uma longa experiência das coisas modernas e uma contínua lição das antigas " mostra que apesar dos grandes avanços tecno-científicos, a natureza humana pouco evoluiu.

Atualizando para o sistema presidencialista, hoje grandes empresários oferecem propinas para financiar campanhas eleitorais em troca de lavagem de dinheiro, que vem através, por exemplo, de obras superfaturadas. E a Petrobrás, heim? Enfim, são favores em troca de favores, da mesma forma. No entanto, quem paga a conta somos nós, os cidadão, através dos altos impostos que somos  obrigados a recolher. Também sofremos com o descaso para com os serviços essenciais, que geralmente são de baixa qualidade por conta da ingerência e desvio de verbas.

Ele citou o caso do Lava Jato, criticando duramente o Juiz Moro, que com uma canetada só é capaz de derrubar quem ele quiser, visto que estamos vivendo uma "ditadura do judiciário". E isso tudo com aplausos da massa ignorante que é facilmente manipulada pelo  "arsenal midiático e especulativo", crente, pelas notícias circulantes de que até a escravidão e o extermínio dos indígenas na invasão ao Brasil no século XVI, foi a galera do PT que promoveu!

Ele também disse que um governo corrupto é o reflexo de um povo igualmente corrupto, mas JAMAIS defendeu a moral utilitária, segundo a qual “os fins justificam os meios”. Discorreu sobre  Platão, Aristóteles e Cícero, que precisam urgentemente fazer parte do conhecimento escolar, já que um povo que não entende de filosofia tende a se manter no obscurantismo e ser presa fácil da tirania política.
iluminismo
Falou do iluminismo e da Revolução Francesa. Da democracia e  liberdade humana, que parecem ser tão instituídas, na nossa sociedade em rede, mas que na verdade são muito frágeis, pois ainda não alcançamos uma cidadania plena. Mandei uma mensagem no privado e entabulamos uma conversa mais profunda, que acabou quase de manhã. Resumindo, ele me convidou para integrar seu grupo de ciberativismo e eu aceitei na hora! Ainda criticou o panorama atual, afirmando que atos pífios, porém importantes para o nosso futuro, são manipulados no Congresso e transmitidos ao vivo, como se fosse um espetáculo do Big Brother.

Ele perguntou se eu tinha visto sua peça A mandrágora em cartaz no Teatro Eurípedes, de quinta a domingo 20:00h. Falei que conhecia o texto e do poder da sátira para atingir as massas e que sinto falta de bons programas humorísticos e de um teatro mais engajado. Em determinado momento ele  disse:

Que tal irmos lá na quinta? Aí a gente se conhece, continua esse papo e depois, podemos tomar um vinho aqui em casa. Posso te fazer uma pasta ao molho pesto que você jamais esquecerá. Também fui presenteado com uns queijos artesanais que um amigo florentino me trouxe e tenho certeza que você vai adorar...
- Vc é vegetariano...
- Caminhando pro veganismo...

Só podia, né? Então não tinha ninguém pra comer o queijo que ele ganhou... Hummmm... Mas eu disse que não poderia, pois estava dando aulas à noite.

Falamos de  Dali, Bosch, Frida... Resenhamos sobre Meia noite em Paris e eu acho que agora dá pra entender porque passávamos tantas horas sem nem sentir o tempo: éramos muito parecidos! Também falamos de O senhor das moscas nesse dia.

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Machiavelli não me atraiu fisicamente pelas fotos que vi no seu Face imediatamente... Ele é muito delgado, alto... Mas depois que passamos pra chamada de vídeo, percebi que ele tem um certo charme eloquente... Mesmo assim, com todo seu aporte epistemológico,  não rola... Poderemos ser amigos, afinal, nem todas as relações entre héteros tem que passar pela cama. Mas é que ir na casa da pessoa e tomar vinho, já subtende uma intimidade. E olha que só conversamos uma vez...Tudo bem, foi por sete horas seguidas! Nesse dia não dormimos! E ele disse que eu pareço com uma pintura de Modigliani... Me mandou Nú coche. Discutimos nudes, sexting e outras vibes... Sempre assim, no nível das ideias...

Ele é um ariano típico, um cara com energia, altruísmo e idealismo. Já eu sou aquariana, livre, inquieta e até certo ponto engajada. Só sei que ainda discutimos mais sobre sua comédia e como o humor pode levar as pessoas a refletirem criticamente.

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Quando se fala em politica os brasileiros torcem a cara e dizem "Eu odeio politica"... Isso é muito complicado, pois o desconhecimento faz com que os cidadãos não exigam seus direitos, não se mobilizem e nem conheçam o seu poder e valor.

Convidei ele pra ver um vídeo produzido pelos meus colegas da Rede AT  e que atualmente integram a mostra Kurumim, em cartaz até dia 16 lá no Palacete das Artes. Como ele também não podia eu enviei logo o vídeo , do Cabloco Marcellinoativista dos anos 30 da causa indígena e morto numa emboscada em Olivença.
Começamos a falar da causa indígena e seus problemas com apropriação indevida de terras, situação de penúria e dificuldades imensas de vencer o etnocentrimo ainda vigente.

Estávamos no Skype e já conversando há cerca de 20 dias sem conseguirmos agenda pro encontro no real. Captei um brilho no seu olhar quando falei que estou atualizando e fazendo um roteiro para Medéia, cujos poderes mágicos do passado agora se transmutam no seu poder exercido nas mídias sociais. Daí surgiu a minha proposta:

- E se a gente oferecer uma oficina de teatro pra uma comunidade carente  com o objetivo de despertá-los para uma visão crítica e reflexiva do mundo por meio da arte? Podemos construir o texto colaborativamente e depois ir apresentar nas escolas públicas. Dar voz e vez para suas experiências valorizando seus saberes... Assim, estaremos fomentando também a formação de platéia... Se elas não podem ir ao teatro pelos seus caros ingressos, poucas peças para o público adolescente e elitização, o teatro  irá até elas!  Dentre outras coisas, né?
- Excelente sua ideia!!! Ando meio atribulado com minhas atividades, mas  vamos sim escrever esse projeto! Será nosso primeiro fruto juntos para a sociedade... Tenho até uma escola na comunidade de Pau da Lima que vai acolher nosso projeto de braços abertos: a Escola Jesus Cristo, na Mansão do Caminho...
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Lindinete Pereira encena Casa de Bonecas na Escola Jesus Cristo. Foto by: Guel Pinna

Conversamos mais algumas horas! É interessante que não tínhamos tempo para nos vermos pessoalmente, dados os compromissos de trabalho e estudos, mas nos víamos todos os dias na madrugada pelo Zap, principalmente.
Curtíamos e debatíamos nos grupos, compartilhávamos no Face e aumentávamos cada dia mais a intimidade e sensação que éramos sim, grandes e inseparáveis amigos... Confesso que minha admiração, respeito e estima cresceram exponencialmente. Um misto de afetividade e desejo de realização entraram por todos os meus poros. Escrevi celeremente o projeto com base nas nossas conversas.

Até que enviei  música Mais ninguém, com a Mallu Magalhães... E ele mandou de volta Até o dia clarear (Marcello Camelo) na minha timeline acrescentando "Bem assim".

"Eu sei lá se eu vir você mais tarde
Eu vou até o dia clarear
Sei não, se eu vir você mais tarde
Eu vou até o dia clarear
Vou até o dia clarear"

Nos conectamos... Ele ouvia Rubel. Ficamos meio estáticos, nos olhando apenas. Já tínhamos falado tanto... Agora era apenas o olhar, o sorriso... Ah, existe um mundo desconhecido em cada ser. Mas no sorriso de Machiavelli reside um mistério. E isso me encanta.

By Guel Pinna

segunda-feira, 10 de julho de 2017

A adoção de Tobias e os julgamentos no Facebook


Ultimamente, grupos de colaboração mútua, como o "Eu aceito... Eu ofereço" tem ganhado espaço no Facebook e hoje eu vou utilizar o exemplo de uma postagem para discutirmos solidariedade e julgamentos.

Segundo a criadora, Isabela Silveira a definição do grupo é a seguinte:
"É um grupo de Fcebook que foi criado [...] para mulheres cis e trans fazerem interações diversas e se acolherem. [...] Tudo que não é, é troca. Só de for de amor e de afeto. Pedem muita companhia. Companhia pra estudar, malhar, fazer regime,.. Tem quatro regras: só mulheres, não pode permuta (coisas financeiras) de nenhum tipo, nada de links externos e nada de divulgação. Senão vira um painel de divulgação. Ali é pra gente falar da gente, sobre as nossas demandas."

E na descrição, da página há o seguinte:

"Graças às Deusas temos assistido um movimento grande de mulheres se unindo, se ajudando e se cuidando mutuamente. Bendita sororidade! Mas percebo que ainda é comum termos vergonha de pedir ajuda como se, de algum modo, isso significasse que fracassamos na gestão de nossas vidas."


Com 30.615 membros em 10.07.2017, a comunidade, foi criada em Salvador, tem 8 moderadoras e eu entrei para ela porque acredito e louvo a proposta. Das minhas relações pessoais, há 16 manas que também integram o grupo. Já ofereci uma Oficina de Jogos teatrais, onde 12 mulheres aceitaram, no entanto não ocorreu porque quando enviei mensagem inbox para confirmar se as "manas" viriam, só uma tinha disponibilidade e eu resolvi adiar. 

Lá todos os tipo de pedido aparecem. Da indicação de uma ginecologista para saúde lésbica a sobras de festas. Doação de roupas, sapatos, livros e móveis geralmente fazem com que "filas" sejam criadas virtualmente. E toda vez que leio a pagina, sinto que a solidariedade é realmente a mola mestra do grupo. Só que como na vida nem tudo são flores, de vez em quando aparece uma polêmica.

Uma oferta de um cachorro levou a reflexão de como se utiliza o espaço desses grupos para julgamentos e apreciações pessoais . O anúncio,  vou reproduzir aqui porque é público e pode ser que alguém se interesse por Tobias.
Dizia o seguinte:

"Eu ofeteço esse lindo cachorro, 
para adoção responsável:
Motivo sem tempo para cuidar.

Idade: 1 ano e meio
Raça: Cocker Spaniel Inglês
Bairro: São Cristóvão
Tomou vacina tem 6 meses
Não é castrado
Muito docil
Nome: Tobias
Tem coleira, cama, cobertores
A pessoa esta doando porque não tem tempo pra cuidar"

Ficou um dia sem nenhum comentário e aí começaram os julgamentos.

" Fico pensando, pq pega um animal e depois faz isso com ele.
Sendo que ele tem sentimentos.
Queria só ver se ia fazer isso com uma criança, pq não tem tempo bora colocar pra adoção. 

Acho isso uma falta de respeito com um filhinho de 4 patas.
Mais sempre vai ter uma pessoa que vai abrir a boca e falar.
É melhor por pra adoção do que largar na rua.
A verdade mesmo que eu acho que uma pessoa dessa nem deveria em momento algum pegar um animal pra cuidar sendo que a própria não tem tempo pra nada aff.
Fico revoltada com isso.
Que vc Tobias encontre uma família que te ame para sempre." (R1.)

Uma das coisas que estou pensando aqui é sobre a liberdade de escrevermos sobre o que quisermos e isso gerar uma reação em cadeia, o efeito de manada.

O fato de estar publicado no Facebook me dá o direito de exprimir uma opinião sobre a temática aqui, no meu blog, sem autorização das pessoas envolvidas. Ora, está na rede, as pessoas não estão sendo identificadas e eu estou exercendo também meu direito de falar sobre o que eu bem quiser, não é mesmo?

Muitos comentários julgadores depois, alguns com fotos de seus animais, eis que vem alguém expressa uma pinião contrária ao julgamento.

"Eu ofereço uma sugestão a todas nós: não vamos julgar... Tenho uma cachorra por quem sou louca maluca. Sei dos meus valores e das minhas possibilidades. [...] não seria por mim descartada. Entendo que é uma vida e envolve responsabilidades, abrir mão de algumas coisas... Mas não conhecemos a realidade do outro. E não somos perfeitos" (R2)

"Desculpa, não é julgamento. Mas, é preciso fazer essa reflexão. Postagens de doação precisam dessa reflexão, de vez em quando aparece uma." (R3)

"Sabe o que é? Quem não doaria, não doaria. Quem doaria, doaria. E aí no meio rolam aqueles impasses... Então não me parece muito reflexão... Pode ser que perdeu o emprego. Pode ser que o cachorro ta deprimido só. Podem ser muitas possibilidades. Aí cada um resolve de um jeito.." (R2)

"Achei que fosse encontrar vários aceitos como vejo diariamente quando é colocado algo material,me pergunto se vcs já compartilharam o post porque quanto mas pessoas visualizarem mas rápido ela encontrará um lar,bjos de luz!" (R4)

"É realmente o mundo não terá jeito enquanto continuarmos a nos sentir no direito de julgar. Aqui era para dizer aceito ou encontrar alguém que queira o animal e na Boa amo animais mas comparar uma criança com um cachorro e demais. Cuidar amar ser responsável com tudo e com todos. Alguém pode ajudar? alguém quer o cachorro?" (R5)

Entrei na discussão, que a esta altura já tinha vários comentários comparando os animais a filhos.

"Me interessei pelo "Tobias" e liguei pra [...] Primeiro que eu achava que ele era um cachorrinho pequeno e ele é de porte médio. Eu moro em apartamento e me preocupa a questão do espaço para ele. [...] também disse que ele é ativo e brincalhão e que o ideal seria alguém que tenha espaço... Pensei em adotá-lo para sairmos juntos pra caminhar aqui na orla do Rio Vermelho e sermos parceiros em muitas outras coisas. Vou copiar e colar na minha timeline para ver se ajudo a divulgar. Mas realmente não sou a pessoa ideal para ele. Vamos nos unir para que essa pessoa chegue.Quanto aos julgamentos, concordo com R5. Mas até mesmo seres humanos ficam em orfanatos para serem adotados, infelizmente." (R6)

"O Cocker adulto tem entre 13 e 16kg. Tenho uma mamute num apartamento, se quiser conversar sobre... Estou a disposição. Minha cachorra tem 35kg e é preciso compensar o espaço pequeno com caminhadas..." (R2)

R2, bom saber sua experiencia com um de mesma raça. A ideia era caminhar diariamente porque eu tb estou "mamute"....rs Quanto vc acha que é custo com ração mensal? São muito inquietos? Ou ficam de boa no apartamento? (R6)

"Realmente os cães da raça do Tobias são de porte médio,mas são muito companheiros,adoram passear e se vc quer uma raça para acompanhar nas caminhadas ele é o ideal,quanto ao espaço,tive dois num apto no Rio e não tive problemas,eles são brincalhões,mas são dóceis e tranquilos,basta sair com eles e dar uma boa caminhada por dia,se não tivesse três eu ficaria,nas a cota aqui de casa já completou,vacinas,comida, vermífugo,carinho e atenção,não tenho como ter mais um." (R7)

Ainda houveram declarações contra o julgamento: 

"Decepcionada com esses comentários sobre o juízo final da moça! Mais amor, menos julgamentos. Desejo sorte para a mana e seu bichinho  Fico pensando: se todas q julgaram tivesse posto um "aceito" teria uma fila aqui para buscar o Tobias... Mas... Vida q segue! Paz e luz para todas nós." (R8)

"Doar também pode ser um ato de amor! Acredito que há dignidade ao se reconhecer que não pode cuidar de algum ser vivo (seja animal ou ser humano) e, dessa forma, pedir ajuda. Tenho caso de adoção na família, adoção de ser humano, e somos gratas a mulher que reconheceu que não podia cuidar de uma vida (que já tinha mais de 1 ano de existência) e teve a oportunidade de encontrar pessoas dispostas e disponíveis a cuidar, amar e acolher sem fazer julgamento sobre os motivos que levaram a outra a doar. Cada qual com suas histórias, suas dores e delícias! Desejo sucesso a Tobias! Vai dar tudo certo!" (R9)

Apesar de ter havido um redirecionamento da conversa, voltou novamente o julgamento, a comparação com a família e nada do Tobias ser adotado. A dona do cachorro não faz parte do grupo, mas creio que ficaria chateada com os comentários. Quem postou, foi relativamente neutra e só entrou na discussão vários comentários depois.

Essa história, com mais de cem comentários, ilustra bem como passamos a nos relacionar nas redes sociais. Nos unimos ou reagimos de acordo com nossas concepções. Todos tem opinião e expressá-las é um direito, no entanto, a censura alheia aparece com muita frequência. E fica tudo lá, com o registro e acesso direto ao seu perfil.

A história de Tobias leva a uma discussão interessante sobre julgamentos na internet. Se não houvesse os julgamentos iniciais, haveriam tantos comentários? Doar um animal para não é igual a doar uma criança mas minha opinião é favorável a quem admite que não pode cuidar e coloca para adoção. Inclusive tenho panos de adotar uma criança daqui a uns cinco anos. Também pensei em adotar Tobias, mas ele é maior do que pensei e sua dona não me aconselhou. Ou seja, ela se preocupa para onde ele vai. Não é só se desafazer e resolver seu problema.

Geralmente essas postagens resultam em um feed back para avisar o resultado, Espero que alguém adote o Tobias!

Guel Pinna

Salvador, 10.07.2017   04:24h


quinta-feira, 6 de julho de 2017

Medeia em três contextos e umas dicas sobre ABNT

Fala, galera! Tudo bem?

Esse foi um Trabalho apresentado a título de 1ª avaliação escrita da disciplina TEAA14, Poéticas da encenação, T01, semestre letivo 2017.1, sob a orientação do professor Paulo Cunha.

Coloco aqui na íntegra para quem quiser dar uma olhadinha. 

Muita gente não faz as coisas como deveriam, pegam um trabalho pronto, copiam e colam e acham que tá tudo bem. Não está. Cada parágrafo precisa ser referenciado. Senão é uma construção original sua, tem que ter a referência. PLÁGIO É CRIME, LEMBRE-SE DISSO!

A ABNT regulamenta isso e deve ser obedecida. Não é um bicho-de-sete-cabeças. MAS PRECISA APRENDER PRATICANDO TAMBÉM.

Eu usei a Wikipedia, pois ela possui textos interessantes, no entanto, academicamente deve se evitar documentos de internet sem autoria. Teses, Dissertações, monografias, artigos,  são fontes mais confiáveis, pois foram submetidas a uma comissão de professores para aprová-las. Não é preciso ler tudo para utilizar o que nos interessa. 

Num trabalho academico disponibilizado na net, abra e dê "control F" na palavra-chave que você buscou. Leia, compreenda. Aproprie-se, se for o caso, MAS DÊ O CREDITO AO AUTOR QUE ESCREVEU. SE NÃO FOI VOCÊ, REPITO, TEM QUE TER REFERÊNCIA AO FINAL DO PARÁGRAFO.

DICAS DE ABNT

Caso pegue algo que foi escrito por mim, a referência correta seria conforme vou explicar.

Citação literal, onde vc pega exatamente o que eu disse:

a) Ate três linhas, vc aspeia e ao final coloca autor e ano.

"A peça é centrada na ação entre dois atores, simples de encenar, no entanto, de grande efeito moral e psicológico. Os encontros entre Medéia e a Nutriz, o mensageiro, Jasão, Creonte e Egeu dão conta de toda história." (PINNA, 2017)

b) Mais de três linhas, NÃO USA ASPAS!!! Usara um parágrafo próprio, recuado e tem que colocar a PÁGINA . VOCÊ ESCREVE UM PARÁGRAFO E COSTURA COM O QUE REFORÇA O QUE VOCê DISSE, DE FORMA LITERAL. Ex:

Segundo Malhadas (2017) A tragédia surge durante as Grandes Dionisíacas, também conhecidas por Dionísiacas Urbanas e que eram grandes celebrações em honra ao deus Dioniso e representavam um dos eventos mais importantes da polis.
A cada nova primavera, homens e mulheres se reuniam no théatron para assistir a peças que representavam velhos mitos recriados pelas mãos dos dramaturgos. Dessa forma, os festivais representavam não apenas uma instituição religiosa, mas faziam parte da vida política e social. [...] Dentre os espetáculos, tínhamos a tragédia grega. No âmbito desse gênero de produção dramática, importa destacar três nomes que sobreviveram às intempéries, às falácias do tempo e da memória: Ésquilo, Sófocles e Eurípides. (ANJOS, 2014, p. 61)

Note você não leu o texto de Malhadas, vc esta vendo ela citada no meu trabalho. Isso é citação da citação. Então entra o termo apud. E no caso, eu usei "segundo", pois não é uma transcrição do pensamento dela de forma literal. Eu que escrevi com base nela. Mesmo assim tem que citar, compreende?
Então, se vc decidisse e utilzar desse parágrafo, usaria a regra já explicada, colocando (MALHADAS, apud PINNA, 2017)


Já com ANJOS, eu peguei igual e tem mais de 3 linhas, então é recuo de 4 cm. Aqui no blog não tenho como ver se este recuo está certo. Mas no Word tem.

Outro exemplo. Eu escrevi a partir de leitura da peça e não de alguem que fala dela. Portanto é uma construção pessoal, que deve estar presente em todo texto. Se não, qual sua contribuição? Nesse caso, digamos que vc gostou do que eu disse, mas quer acrescentar, modificar, com suas palavras. Você, pode e se chama "parafrasear. Digamos que vc leu o seguinte:

Ela consegue manipular a todos e articula sozinha toda trama que levará à morte vários personagens em diferentes momentos. Ela é também quem resolve todos os problemas de Jasão a partir do momento que o  conhece, sendo importante peça no seu percurso “heróico” e constituindo-se também numa heroína trágica.

Ai vc reescreve e coloca :

Segundo Pinna (2017) Medeia é a articuladora de toda ação dramática, resolvendo os problemas de Jasão e constituindo-se numa personagem trágica.

Perceba que vc disse a mesma coisa, só que com outras palavras. Mas vc não diz isso sozinha, então, tem que citar de onde veio isso, entende?

Aqui é um blog, não tem página. Mas tem autoria. Tem data. E tem o endereço, que é o link. Meu nome é Lindnoslen Guelnete Costa Pinna. Na referência, vem primeiro o sobrenome, seguido das iniciais , assim: PINNA, L. G.C. Mas aqui assino o blog como Guel Pinna. Então ficaria: PINNA, G.

Pesquise... Tem esse video e muito mais aquii na rede! É só procurar!


MEDÉIA EM TRÊS CONTEXTOS: RESENHA CRÍTICO-INFORMATIVA DO FILME DE PASOLINI, A PARTIR DO CONCEITO DE POÉTICA DE ARISTÓTELES E DE APROXIMAÇÕES COMPARATIVAS COM A MEDÉIA EURIPIDIANA

INTRODUÇÃO

O objetivo deste ensaio é contextualizar  o conhecimento por meio de uma análise que intercruza de forma somativa o texto de a Arte poética de Aristóteles, o filme Medéia de Pasolini e o texto Medea de Eurípedes.
Não é uma tarefa simples porque todas as três obras de referência são complexas e repletas de uma linguagem semiótica peculiar. Medéia é densa pela sua temática e carregada de signos que poderiam ser aprofundados nos mais variados aspectos. Já o filme, que particularmente não gostei, também necessita de uma análise menos superficial para que se possa perceber sua poética inscrita e acessível apenas quando se tem um pré-conhecimento da obra de Pasolini. E a Arte poética de Aristóteles, na sua rica estrutura e ambiguidade, requer um vasto conhecimento de termos técnicos importantes, tais como:
  • Mimesis ou "imitação", "representação".
  • Catharsis ou "purgação", "purificação", "esclarecimento".
  • Peripeteia ou "reversão".
  • Anagnorisis ou "reconhecimento", "identificação".
  • Hamartia ou "erro de cálculo" (entendida no Romantismo como "falha trágica").
  • Mythos ou "roteiro", "argumento".
  • Ethos ou "caráter".
  • Dianoia ou "pensamento", "tema".
  • Lexis ou "retórica", "fala".
  • Melos ou "melodia", "música".
  • Opsis ou "espetáculo". (WIKIPEDIA, 2017a)
Segundo Malhadas (2017) A tragédia surge durante as Grandes Dionisíacas, também conhecidas por Dionísiacas Urbanas e que eram grandes celebrações em honra ao deus Dioniso e representavam um dos eventos mais importantes da polis.
A cada nova primavera, homens e mulheres se reuniam no théatron para assistir a peças que representavam velhos mitos recriados pelas mãos dos dramaturgos. Dessa forma, os festivais representavam não apenas uma instituição religiosa, mas faziam parte da vida política e social. [...] Dentre os espetáculos, tínhamos a tragédia grega. No âmbito desse gênero de produção dramática, importa destacar três nomes que sobreviveram às intempéries, às falácias do tempo e da memória: Ésquilo, Sófocles e Eurípides. (ANJOS, 2014, p. 61)
Artistóteles (1991) em sua Arte poética define o que seriam tragédia e comédia, uma divisão de gêneros a primeira imitaria os homens virtuosos e superiores e a segunda imitaria os viciosos e inferiores. “A mais bela tragédia é aquela cuja composição deve ser, não simples, mas complexa; aquela cujos fatos, por ela imitados, são capazes de excitar o temor e a compaixão.”  
Medéia não é uma personagem que surge em Eurípedes, visto que ela é “o resultado da síntese de diversas sequências míticas”, onde, dentre outras coisas, “sobressaem características como a ascendência divina, o temperamento indomável, a irracionalidade/racionalidade e o desejo de vingança”, por exemplo. A  Medéia euripidiana é portanto a versão que viria a influenciar a obra de muitos autores, dentre eles Nelson Rodrigues, Chico Buarque de Holanda e José Triana. (ANJOS, 2014)

MEDÉIA E EURÍPEDES

Medéia (em grego, Μήδεια) é uma tragédia grega de Eurípides, datada de 431 a.C. Conta a história de uma princesa bárbara, filha do rei Eetes, da Cólquida, região localizada no sul do Cáucaso  (atualmente, a Geórgia). Sua primeira encenação ocorreu em 431 a.C. no festival das Dionisíacas urbanas, onde três dramaturgos competiam entre si, cada um escrevendo uma tetralogia, tendo Eurípides apresentado além de Medeia três peças que se perderam: as tragédias Filotetes e Díctis e a sátira Theristai. (WIKIPEDIA, 2017e)
Eurípides ficou com o último lugar, já que sua Medéia causou muita controvérsia. Ele concorreu com Eufórion, o filho do famoso dramaturgo Ésquilo, que levou o primeiro lugar e Sófocles, seu principal rival.
A peça é centrada na ação entre dois atores, simples de encenar, no entanto, de grande efeito moral e psicológico. Os encontros entre Medéia e a Nutriz, o mensageiro, Jasão, Creonte e Egeu dão conta de toda história. Ela consegue manipular a todos e articula sozinha toda trama que levará à morte vários personagens em diferentes momentos. Ela é também quem resolve todos os problemas de Jasão a partir do momento que o  conhece, sendo importante peça no seu percurso “heróico” e constituindo-se também numa heroína trágica.
Medéia traz consigo mais um dado de alteridade; ela é uma personagem regida por um estatuto religioso sui generis, um estatuto condizente com sua proveniência meio divina, meio humana, e coroada pelos seus dons mágicos, que se encarregam de estabelecer o contato entre esses dois universos nela presentes. A magia de Medéia centrava-se em um saber, o saber ligado ao uso do phármakon. Medéia mesma diz-se sábia em relação aos phármaka, e sábia por natureza. (CAIRUS, 2005, p.2)
O mito de Medéia insere-se no ciclo narrativo dos Argonautas. Jasão é  criado  pelo centauro Quíron, que diferentemente de seus pares, era inteligente, civilizado, bondoso, e célebre por seu conhecimento e habilidade com a medicina. No filme de Pasolini, é  o personagem que monologa e nos conta sobre a necessidade de Jasão recuperar seu trono das mãos de seu tio Pélis, que temendo a profecia de que seria morto pelo herói, lhe envia para uma missão impossível. (WIKIPEDIA, 2017 b)
Jasão busca ajuda de outros heróis e um arauto é enviado por toda a Grécia a fim de agregar heróis que estivessem dispostos a participar desta difícil empreitada. Aproximadamente cinquenta jovens se apresentaram, todos eles heróis de grande renome e valor. Cada um deles desempenhou na expedição uma função específica, de acordo com suas habilidades. Eles eram os  argonautas (em grego : "Ἀργοναῦται ),  tripulantes da nau Argo, comandados por Jasão com a missão de conquistar o Velocino de ouro. (WIKIPEDIA, 2017 b)
Dentre os argonautas, destacamos Hércules, Orfeu, Heitor, Orion e Teseu. Não é uma história simples. Há todo um encadeamento de outras narrativas, com seus mitos próprios e quando analisamos apenas Medéia, estamos elegendo apenas uma das histórias.
Após diversas aventuras, finalmente chegam à Cólquida, e ao rei  Eetes, pai de Medéia. Ela é conhecida por suas habilidades na arte da feitiçaria e apaixonou-se perdidamente Jasão, não medindo esforços para auxiliá-lo nas árduas tarefas que o rei impôs como condição para entregar-lhe o talismã, tais como arar um campo com touros que cospem fogo, semear os dentes de um dragão, lutar com o exército que brota dos dentes semeados e, por fim, passar pelo dragão que guarda o próprio Velocino. Jasão só conseguiu executar as tarefas porque Medéia usou de seus poderes para ajudá-lo. (WIKIPEDIA, 2017 d)
Com o Velocino nas mãos, Jasão foge com Medeia e enfrenta várias aventuras na volta para casa. O rei Pélias é morto, cumprindo a antiga profecia. E para evitar serem mortos pelo seu pai, Medéia trai o irmão Absirto, que morre pela espada de Jasão numa emboscada.
Eurípides vai evocar justamente essa personagem estranha e ainda vai dar-lhe um perfil mais contrário à pólis O que os atenienses terão como espetáculo é uma peça que gira toda ela em torno de uma mulher estrangeira, feiticeira, ativa, passional, que eleva a sua paixão acima do universo doméstico, acima do que deveria justificar a sua existência, acima mesmo de sua prole. (CAIRUS, 2005, p.3)
Após dez anos de casamento e já com dois filho Jasão dispensa com a já envelhecida Medéia,  pretende se  casar com a jovem Glauce, filha do rei  Creonte. Essa rejeição e traição do objeto de sua paixão, desencadeia em Medeia sentimentos terríveis que a levam a perda da razão.
Medéia rompe com os modelos maternais em nome de seus intensos sentimentos que passam de um paixão desmedido ao ódio sem fronteiras, descambando no assassinato de nada menos que seus principais oponentes e até mesmo seu pai, seu irmão e finalmente seus dois filhos.

MEDÉIA E ARISTÓTELES

Artistóteles (1991) em sua Arte poética define o que seriam tragédia e comédia, uma divisão de gêneros a primeira imitaria os homens virtuosos e superiores e a segunda imitaria os viciosos e inferiores. “A mais bela tragédia é aquela cuja composição deve ser, não simples, mas complexa; aquela cujos fatos, por ela imitados, são capazes de excitar o temor e a compaixão.”  
Por esta ótica, Édipo é uma tragédia perfeita, pois por desconhecer sua origem, ele comete o erro trágico, chegando a adequada comoção (kommós), requerida para a catarse (katársis) por parte do espectador. Além disso, na tragédia ideal a peripécia deve decorrer da hamartía, para que o herói reconheça que errou (anagnórisis); quando os acontecimentos se devem à ação de forças superiores às do herói, por exemplo, não há erro, nem reconhecimento, e a tragédia é inefetiva. (WIKIPEDIA, 2017d)
Medéia é a heroína clássica e isto é evidenciado pela forma como se conduz em toda peça. E o final, sem remissão dos erros e com o deus ex machina presente na forma do carro do Sol também é criticada por Aristóteles, mesmo ele dizendo que Eurípedes é o mais trágico dos autores. Também está ausente o aspecto bom da personagem. Comparada com Édipo, por exemplo, vemos toda culpa do personagem, que se pune automutilado-se. Medéia escapa ilesa e ainda faz uma aliança com Egeu que lhe daria a possibilidade de encontrar um final feliz.
Aristóteles, que parece não considerar o suporte político do espetáculo trágico, critica duramente o aparecimento de Egeu na peça. De fato, Egeu passa por Corinto por estar a caminho de Trezena, para que Piteu o ajude a esclarecer um oráculo obscuro que deveria ensinar-lhe o que fazer para gerar filhos Seria, contudo, interessante pensar em quem é Egeu. Seu surgimento na peça parece, à primeira vista, justificar-se pela lembrança que ele traz à Medéia acerca do valor que a estirpe heróica atribui à descendência. Essa lembrança naturalmente influenciará na forma que Medéia escolherá para vingar-se de Jasão. Mas não seria preciso trazer à cena um personagem tão significativo como Egeu apenas para isso. (CAIRUS, 2005, p.4)
E diferentemente da fórmula criada por Aristóteles, o final de Medéia não leva a catarse. Ela simplesmente escapará de forma inusitada do sofrimento e dor que os heróis sentem ao final de seu percurso trágico.
De todos os que têm alma e pensamento, nós, mulheres, somos a criatura mais infeliz. Primeiro, é preciso, com o máximo de bens, comprar um marido, e tomar o déspota de nossos corpos. Esse mal é mais doloroso do que o próprio mal. (.....) Dizem que vivemos uma vida sem perigos, em casa, enquanto eles guerreiam com a lança; e pensam mal, pois preferiria eu três vezes lutar com o escudo a parir uma única vez. (EURÍPEDES,
Mas esta também é uma obra que nos mostra a condição da mulher ateniense, inscrita numa sociedade machista, patriarcal e que relegava as mulheres uma condição de subserviência e inferioridade. Se nos dias atuais ainda há diferenças sociais e culturais entre homens e mulheres, imaginem o cenário grego do século IV a. C. E Medéia “ousou ultrapassar a misoginia popular, ousou dizer no teatro a condição atroz da mulher, confinada à casa, excluída da vida pública. [...] “Não há mulher grega que tenha ousado isso.” (HIRATA, 1991, p. 14)
PASOLINI E MEDÉIA
A experiência de Pasolini com a tragédia grega começa quando a pedido de Vittorio Gassman, em 1959, ele realiza a tradução da Oréstia, de Ésquilo. Em La Grecia secondo Pasolini: mito e cinema, ele afirma que um ponto importante para a poética pasoliniana era “a assimilação de alguns elementos arcaicos por parte do mundo moderno, o momento preciso da síntese”. E ainda cita Pasolini: “A incerteza existencial da sociedade primitiva permanece como categoria da angústia existencial ou da fantasia, na sociedade evoluída” (FUSILLO, 1996 apud MACIEL, 2017).
A estética pasoliniana não prima por aspectos óbvios de construção fílmica. Ele realiza uma desconstrução do que concebemos pós-modernamente como “melodramático” e insere elementos próprios de sua   abordagem, convergindo para uma espécie de releitura “dos temas escolhidos como significativos, realiza uma releitura da tragédia que, saindo da superfície dos conflitos, busca os seus significados míticos. ” Serão criados e inseridos “signos fílmicos – imagens e sons – que, extrapolando os significados contidos no texto dramático de Eurípides, apontarão para uma nova forma de obra dramática. ” (MACIEL, 2017)
A entrada em cena desses signos fílmicos possibilitará o preenchimento de lacunas deixadas pelo texto poético, assim como pelas suas sucessivas interpretações. Outra lacuna preenchida esteticamente por Pasolini é o conflito trágico existente no ser humano, representado através da segunda aparição do Centauro, que aponta para uma leitura essencialmente dialética feita por Pasolini do trágico. [...] Os signos fílmicos – a trilha sonora, as máscaras representadas pelos demorados planos fechados, a paisagem primitiva e os longos planos-sequência do país de Medéia – tratam de fazer essa conexão do imaginário moderno sobre o que seja o mito com o profundo incômodo causado pela visão de cenas não processadas pela razão moderna, mas vistas em estado de natureza. Paradoxalmente, a visão dessas cenas plenas de primitividade é proporcionada na tela do cinema, a arte da modernidade por excelência. [...] Pasolini realiza uma crítica a respeito da personagem trágica de Medéia, da sua tragicidade. (MACIEL, 2017)
Pasolini realmente traz essas longas pausas, os closes e um ritmo que é próprio do chamado filme de arte, mas não chega ser agradável. Pelo contrário, é cansativo e entediante. Mas quando nos esforçamos para entender sua poética, fica claro que a intencionalidade dele está presente em toda obra e não é mero fruto de algo acidental.
Existe uma certa “receita” para a tragédia e Medéia se afasta disso, pois ela é uma figura trágica e não a heroína trágica aristotélica. A Medéia de Eurípides é grega, caracterizada pelo seu temperamento; a Medéia de Pasolini é sempre bárbara, embora se desconhecendo – “uma ânfora cheia de conhecimento que não me pertence” –, mas a origem não se perde (“ainda sou a mesma”). (MACIEL, 2017)
[...] na verdade, está possessa de uma natureza trágica apaixonada, absolutamente incontrolável tanto no amor quanto no ódio, o que a torna dramática, mas não é martÛa ( harmartía): é a mulher por inteiro. [Medéia] é trágica à medida que as suas paixões são mais fortes que a sua razão. [...] no entanto, não é uma heroína trágica, tal como temos compreendido o termo até agora. É demasiado extrema, demasiado simples. Não há aqui o estudo de um caráter, [...] porquanto a caracterização está, de qualquer modo, concentrada na paixão dominadora e a situação é manejada de forma a estimular ao máximo este fato. (KITTO, 1990, p. 20).
Após discorrer sem esgotar o tema sobre sobre mágoa, ira, traição, dor, ódio, violência, dissimulação, vingança, feitiçaria, sagrado, profano, deuses e reis enfim, os elementos que alimentam o caldo de cultura que geram a verdadeira tragédia grega, me resta concluir que Medéia é uma sem precedentes, marcada pela criatividade e liberdade de Eurípedes em transgredir, não levando em consideração os cânones já impostos pelos concursos das Dionisíacas e os apelos estéticos vigentes em sua época.
Gostaria de ter tido mais tempo para analisar melhor os inúmeros trabalhos acadêmicos que encontrei, bem como obras inspiradas na peça, tais como Gota d´água de Chico Buarque de Holanda e Anjo Negro de Nelson Rodrigues.
Apesar de não fazer menção no texto, também li sobre casos reais de pessoas que cometeram infanticídio, no Brasil e na Inglaterra. Também caberia um viés psicológico dos personagens, mas para isso eu necessitaria de mais tempo para leitura e interpretação.
Creio que não foi um trabalho de simples execução para estudantes de primeiro semestre, muitos oriundos do ensino médio que não ensina a construir resenhas e expressar opiniões.
Espero ter atingido o objetivo. O percurso foi árduo, porém profícuo. Evitei opiniões, mas tudo que não tem referência é uma construção pessoal  a partir das leituras que realizei e de meu próprio senso crítico.
E para finalizar, com um trecho da música de Chico Buarque, Gota d´água :


Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor


Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água




Guel Pinna


Salvador, 21.06.2017
REFERÊNCIAS
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