segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Destilando a dor e " A Perda do Reino"

Mais uma historinha... Comecei ela bem triste...e fui mudando de humor... aí, resolvi parar... porque amanhã é outro dia e eu não sei como quero "acabar" com esses personagens...
Vamos a história? Na foto acima, a Rainha Göul... Uma Valquíria...
Era uma vez, num reinado muito distante, um Rei infeliz. Sua infelicidade crônica não tinha motivos aparentes. Ele tinha tudo no seu pequeno reinado. Suas necessidades físicas e emocionais estavam plenamente satisfeitas. Mas ele era infeliz...
A vida começou a puni-lo pela sua infelicidade. Pela sua ausência de gratidão pela vida. Pela sua falta de compaixão pelo próximo. Porque ele não se importava se as pessoas que o amavam sofriam ou não. Então ele não tinha sequer compaixão por elas.
A vida começou a privá-lo justamente das coisas que ele gostava. Porque a vida é sábia. Nós somos meros tolos. Mas a vida é sábia. Ela não faz nada à toa... sem sentido... É tudo, na medida exata.
Sua saúde começou a ser atingida. E ele usou isso como desculpa para sua infelicidade. Mas não era verdade! Num exame consciente se veria que não era a doença que o deixava infeliz. E sim a infelicidade que o deixava doente.
O Rei não tinha herdeiros. Nem nunca quis ter... herdeiros dão muito trabalho, pensava ele. Mas dão grandes alegrias, também, eu diria... mas o fato é que nada além dele mesmo importava... e a vida não é feita pra ser assim. Usava de uma beberagem para evitar que os filhos viessem antes de seu casamento... e depois de casado também... crianças não eram bem-vindas.
O Rei era egoísta. E o egoísmo era a sua verdadeira doença...
Mas o Rei era um homem de bom coração. Seus defeitos não eram assim tão graves. Quem de nós não é também egoísta? E quem de nós é verdadeiramente feliz?
Mas talvez a nossa diferença resida no fato de estarmos em busca... em busca de um dia melhor, de uma vida melhor... no fato de não nos acomodarmos na condição adversa...
Preocupados com sua desmotivação para vida e com o reino ameaçado por um povo rival, seus conselheiros resolveram tomar uma atitude:
- Nosso reino será atacado... e sem as definições do nosso Rei, iremos fatalmente perder a batalha... (Disse o Grão-vizir)
- O que fazer? Ele não deseja lutar... nem quer dialogar para a paz (disse um dos Ministros)
- A paz não será possível sem abrirmos mão de muitas coisas... não é o ideal para nós... (disse outro)
- A verdade é que precisamos de alguém para assumir as responsabilidades pelo reino, nesse momento delicado... (disse mais outro)
- Mas do ponto e vista legal, não há herdeiros, nem parentes próximos que possam assumir por ele... essa dinastia se encerra com ele...
Alguém disse lá do fundo:
- E a Rainha?
Foi um clamor geral... muitos defendendo que ela deveria decidir, outros achando que isso não caberia a uma mulher... especialmente estando o Rei ali... vivinho da silva... Além do mais, a Rainha não pertencia a esse povo... era estrangeira...
Os ministros e o Grão-vizir se reuniram sem a assistência dos membros da corte favoráveis a uma intervenção da Rainha... O grão-vizir era manipulador... e sabia chegar aos seus interesses como ninguém!
A decisão chegou... após horas de reuniões... de ponderações...
O Grão-vizir sentenciou:
- Estamos com a guerra em nossas fronteiras. Os inimigos atacam e o nosso Rei não deseja reagir. Ele é a única pessoa que pode decidir. No seu estado atual, se considerou a possibilidade da nossa Rainha assumir as responsabilidades nas decisões de guerra. Atualmente ela é pacificadora e decidimos enviá-la em missão de paz aos nossos inimigos.
- Mas enviá-la à fronteira? É um absurdo! Quem nos garante que não a matarão simplesmente? (Perguntou preocupado o Conselheiro da Rainha, que de nada sabia... nem da verdadeira de origem de Göul e muito menos dos planos do Grão-vizir)
- Precisamos ganhar tempo... esse ataque surpresa não era esperado. Se nosso Rei não estivesse nesse estado deplorável, jamais nossos aliados se tornariam nossos inimigos, como agora... Desejam usurpar nosso trono porque sabem que nosso Rei está fraco... precisamos de uma estratégia... A Rainha procede de uma linhagem de guerreiros muito poderosa e que nossos oponentes não ousariam desfiar. Ela estará segura e nada lhe acontecerá, eu garanto!
- Como assim? Ela não é uma estrangeira apenas? É procedente de um povo guerreiro? (Perguntou o Conselheiro, perturbado... com cara de "sou o último a saber") A qual povo ela realmente pertence?
- Agora isso não interessa. Por que você mesmo não a inquire sobre isso? Eis que ela vem chegando...
Muitos rumores surgiram na sala... ninguém ali conhecia ao certo sua origem. No dia da sua "apreensão" estavam presentes o Grão-vizir, o atual Rei (que era príncipe na época), o jovem príncipe Mazner e alguns dos seus fiéis escudeiros ... Muitos rumores havia sobre como a rainha tinha surgido e de qual era sua verdadeira origem. Mas ela surgira num dia de festa no reino de Ashnir... Depois foi levada ao reino de Ziantar e em poucos dias tornara-se Rainha, pois de sua chegada ao casamento passaram-se apenas algumas semanas. Ela se portava de tal forma, que era notório que fosse uma nobre de algum reinado distante. Definitivamente não era uma plebéia... Também o príncipe Krovast era um solteirão inveterado e não se decidia por casar com nenhuma princesa das redondezas. Com a morte de seu pai e sua coroação, precisava mesmo de uma Rainha. E ao povo não cabia questionar as decisões reais... apenas acatar...
Mas como o Grão-vizir via tudo isso?A verdade é que o Grão-vizir era um político astuto. Queria mesmo era se livrar da Rainha, que de alguma forma ainda tinha alguma influência sobre o Rei. Se ela morresse na missão de paz, tanto melhor para ele. O Rei já não ligava a mínima para o seu reino... nem pra sua Rainha... mas sem ela, o Grão-vizir poderia se livrar do Rei... e assumir o trono.
Eliminar a Rainha era indiretamente eliminar o Rei... Por algum motivo, ele não tinha coragem de mandar matar o Rei... Mas o induzia a um estado de prostração por meio de drogas potentes... já naquela época, existiam ervas que matavam lentamente... e ele desejava tanto o trono que não se precipitaria a simplesmente mandar assassinar o Rei. As suspeitas recairiam sobre ele... e ainda havia a Rainha... Matar a Rainha e o Rei também era arriscado...
Enviar a rainha a Mazner, o jovem príncipe de Ashnir, era livrar-se de dois problemas... Ele tinha certeza que ela não morreria... só não tinha certeza se ela voltaria. Sabia do seu interesse anterior pelo príncipe Mazner... e dele por ela. Sabia que o Rei passava dias e dias sem dar atenção a jovem Göul... Que os dois residiam em diferentes alas do palácio... Que passavam dias sem sequer trocar uma palavra... e do quanto isso desgasta qualquer relação...
Não havia nenhuma guerra eminente... O reino de Ashnir era aliado... O Grão-vizir manipulou as informações e fez um convite a Mazner, passando-se por enviado da Rainha. Dizia que ela estava desejosa de abandonar o reino para ficar com ele... Por isso pedia que viesse com escolta até as proximidades do reino. Porque a Rainha não suportava mais o desdém do Rei... e desejava partir... mas não sabia como seria a reação dele...
Não se passava na cabeça de Mazner que Göul jamais fugiria de suas responsabilidades... que ela não abandonaria seu esposo simplesmente... Achava que o natural seria que ela estivesse entediada naquela união unilateral e infeliz e desejosa de novas emoções... Era jovem, sonhador, idealista e estava apaixonado. Apaixonados nós não pensamos... pensamos?
O coração do Grão-vizir era muito complexo. No fundo ele amava a Rainha. Mas sabia que jamais seria correspondido... Mas a confusão em sua mente era muito grande... não podia ter a Rainha sem que o Rei morresse... Matar o Rei era matar a si mesmo! Então, que ela morrese. Que ela partisse... que ela se fosse.... que ela sumisse... Para ele, a morte tudo resolveria... Não importava a quem atingiria... quem sofreria e que danos causaria. Depois que ela se encontrasse com Mazner, arranjaria uma maneira de convencer a todos que ela partiu e não voltou porque não quis, quando na verdade tinha outros planos...
A morte resolveria tudo... e foi assim pensando que arquitetou a guerra... Uma guerra fictícia, onde ele entregaria a Rainha e simularia que o mais acertado, para o bem do reino, era que não a fossem buscar. E que não deveriam lutar por ela... Uma vez ela indo, não deveria mais voltar. Não havia espaço para ela na vida do Rei, tentava argumentar... e sabia que se ela também não poderia ser sua naquele reino em que deseja reinar, que sumisse para sempre.
O Grão-vizir não buscava a felicidade... buscava o poder...
Uma grande confusão ele armou... porque ele desejava ter os seus desejos atendidos... porque não lhe interessava a dor alheia... ou quantas pessoas inocentes teriam que pagar pela sua loucura.
E continuou, após ver que a Rainha entrava na sala...
- Minha senhora, és nossa salvação... acreditamos que poderás salvar nosso reino da guerra eminente?
- O que preciso fazer para tal? Perguntou a corajosa Rainha.
- Discutimos e achamos arriscada a empreitada... mas nos parece a única alternativa. Aceitas ir dialogar, pedindo a paz aos nossos oponentes?
- Quem são os nossos oponentes?
- O reinado de Ashnir...
- Como? Não é possível! São nossos amigos de muitas gerações...
- Eram, majestade... até mesmo os amigos podem nos atacar quando se sentem ameaçados!
- Custa-me acreditar nisso! Sim, irei. Partirei imediatamente para dialogar com o Rei de Ashnir... - O Rei não está bem de saúde... seu filho Mazner está no comando
O Grão-vizir percebeu a palidez no rosto da Rainha... Sabia que Mazner tinha pretendido a mão de Göul. Mas ela era uma Valquíria . Só se casou com Krovast porque realmente o amou... Deixou sua vida de guerreira por amor... um profundo amor...
O dia que Shantayos, o Grão-vizir a encontrou, ela estava assim... como na pintura ao lado... Caçando no bosque com sua lança... Seu cavalo estava calmamente pastando na relva... Estava sozinha e por isso foi capturada. Na verdade, ela se deixou capturar... Algo em Shantayos fazia com que sua curiosidade de aguçasse. Deixou-se aprisionar... foi levada para Krovast, que caçava nas proximidades com Mazner. Ambos de alguma forma também se sentiram atraídos pela guerreira. Ela notou o olhar profundo do príncipe Mazner ... O desejo ardente de Shantayos e o amor de Krovast.
Pouco tempo depois, o Rei Tersin morreu e Krovast subiu ao trono. Krovast tinha 38 anos. Tomou Göul por esposa, mas a felicidade do casal durou pouco.
Göul não era mortal... era milenar, no entanto aparentava 21 anos. Era muito mais experiente que qualquer mortal daqueles e conhecia os segredos do coração humano... Mas não estava imune a paixão e ao amor...
Corroído pela inveja e desejoso de ter tudo que Krovast tinha, o Grão-vizir, utilizou-se de todos os meios para seduzir Göul... e quando mais era rechaçado, mais desejava vingar-se. Foi a partir do segundo mês de casamento que as tais ervas começaram a influir no comportamento de Krovast... Em parcos sete meses ele era uma pálida imagem do que tinha sido...
E estava pálido mesmo! Mal saía dos seus aposentos... não dormia no mesmo local que a Rainha... e a deixava infeliz, porque no seu desânimo, passava dias sem querer vê-la... e ela sofria... Quem não sofre sabendo-se perto e distante ao mesmo tempo? Quem não sofre com o abandono sem motivos? Quem não fica infeliz com a infelicidade de quem se ama?

Acho que a historinha tá ficando grande... vou ficar por aqui... depois continuo... Aceito sugestões para desenvolvimento da trama... aliás, ainda não decidi mesmo o final... posso passar umas semanas desenvolvendo esse roteiro...ou simplesmente decidir por um fim rapidamente... vamos ver....

Nenhum comentário: