terça-feira, 13 de novembro de 2012

O Livro Misterioso

Capítulo I – O livro misterioso






Eu tava num "sebo" enorme, com estantes e mais estantes de livros... Atchim, atchim, atchim... Ai minha alergia a poeira. E fui olhando, olhando, entra corredor, sai corredor... Adoro esse ambiente assim cheio de conhecimento. Assim como adoro bibliotecas. Peguei um banquinho e subi nele pra ver umas publicações mais no alto... Hummmm....interessante!!! Vou levar esse também... Coloquei numa prateleira mais baixa... Do nada surge por trás de mim um cara. Pensei que fosse vendedor da loja... Tomei até um susto, pois era tudo silêncio ali e ele chegou tão sem barulho que parecia materializado!

- Você vai levar este livro? (e apontou pra relíquia que acabara de encontrar)

- Tou querendo....espero que não seja muito caro... por que?

- É que estou aqui por causa deste livro...

- Ahn....você também queria comprá-lo? Deve haver outros exemplares! Pergunte ao vendedor! Ás vezes eles têm outros guardados...

- Tenho certeza que não... chequei antes nos sites... esse é único...

- Hummmm... é que me interessei, sabe... mas se for importante mesmo pra você, podemos dar um jeito...Posso te emprestar depois que eu ler...ou você fazer uma cópia... enfim, vamos ver o preço...



O sujeito era tão diferente. Ao mesmo tempo que ele dizia querer tanto o livro, parecia que não queria. Era estranho. Enquanto andamos até o caixa, eu o reparo de cima a baixo. Alto, o que eu presumo uns 2m de altura, pele clara, tipo branco escritório, careca, olhos meio azuis, meio verdes... Nenhum pelo no rosto. Cismei que se ele deixasse o cabelo crescer e fizesse um cavanhaque, ficaria irresistível... E também achei que ele era meio ruivo, sabe? Mas tudo suposição. Ele vestia uma camiseta laranja de um tecido parecido com algodão, mas era diferente... Nossa, nunca vi um tecido que desse tanta vontade de pegar como aquele. E a calça era tipo jeans. Há tantos tipos de jeans e aquele, de um azul claro eu também nunca tinha visto. Olhei pros pés... Aliás, eu esquadrinhei o cara centímetro por centímetro. Porque me dei conta que ele era bem estiloso, diferente... Não fosse a pronúncia perfeita e em bom português, diria que era estrangeiro... O sujeito tinha músculos naturais, na medida certa... Pensando bem, que cara bonito!



- Pois não ? (disse o cara do caixa)

- Veja o preço por favor! (disse eu)

O cara passou o leitor de códigos de barra e olhando pra mim firmemente disse:

- Custa R$ 1,00.

- Sério? Nunca vi um livro dessas dimensões e com este número de páginas por esse preço... É isso mesmo? (Pensei que fosse custar uns R$ 200,00, pois era um livro tamanho A3, com o que imaginava ser mais de 600 páginas, material de excelente qualidade na capa impressioantemente bonita. Essa capa parecia de uma espécie de plástico semelhante ao âmbar... Na verdade, eu nem tinha folheado o livro ainda....Tinha gostado tanto da capa, que sequer tinha olhado o conteúdo. Parecia uma caixa, sabe? Tinha até uma espécie de fecho em relevo que eu nem sabia abrir!

- E então - disse o careca lindo- você vai mesmo comprar o livro?

- Por R$ 1,00?? Eu vou sim! Mas como te disse antes, podemos trocar telefones e depois que eu ler te empresto... Como é mesmo seu nome?

- Omy... (Sorriu ligeiramente... puxou um cartão e me deu.)

- Diferente... Então, tenho seu cartão, ligo pra você quando eu terminar de ler...

- Você não sabe abrir o livro... vai precisar de mim para abri-lo!

- Nada...eu abro sim, ó - e tirei o livro de dentro do saco, enquanto caminhávamos pra fora do sebo... Olhei, olhei e não achei exatamente como abrir... Fiquei meio desconcertada... Passei o livro pra ele e fiz sinal com a cabeça pra ele abrir... Ele abriu um sorriso ainda maior).

- Um livro que você não sabe abrir... Tenho uma oferta pra você... Me venda o livro... eu realmente preciso dele... Te ofereço mil vezes o que você pagou...

- Mil reais? Tá, ele tem uma capa muito original e linda, diferente... Mas vale mesmo isso tudo?

- Vale mais do que você pensa...

- E você ainda me diz... Que bom negociador é você...

- Pois é, não sei mentir...

- Nunca?

- Nunca?

-Então me conte, qual seu interesse "nesse" livro? O que tem de tão bacana no conteúdo?

- Meu interesse não é comercial... é tudo que posso dizer...



Chegamos na rua.



- Olha, você vai ou não abrir o livro? De que ele fala mesmo?

- Não vou abri-lo... você vai...

- Como? Não viu que não sei como abre isso...

- É que você precisa ser lembrada - disse ele em tom de mistério.

- Você deve estar brincando comigo, né?

- Não costumo brincar...

- Não brinca, não mente... de que planeta você é?

- Você não conhece...

Dei uma grande risada... Tá certo que ele era diferente... mas não se admitir daqui, poderia indicar que o cara era meio doido, sei lá... Tudo bem que não me sinto daqui também... Mas não saio dizendo isso pros estranhos, né?

- Ah, não? Não é desse sistema solar...

- Não...

- Está me dizendo que não é desse planeta... Ótimo, sempre quis conhecer um ET!

- Onde você vai agora?

- Num sei... talvez ao cinema...é só descer a rua e tem o "Glauber"... acho que vou ver alguma coisa lá...

- Aceita minha companhia?

- Pro cinema? Claro! Vou muito ao cinema sozinha... Vou adorar sua companhia...



E fomos andando... Era tarde de um sábado... Da rua do sebo, pro cinema eram menos de cinco minutos a pé... O cara era muito sério e engraçado ao mesmo tempo. Ele tinha um ar de mistério... Uma aura diferente e eu não pude "traduzi-lo em cinco minutos", com eu costumava fazer... Chegamos ao cinema... Na verdade eu nem precisava pagar ingresso, pois havia uma "sessão do professor" naquele horário e eu tinha uma carteirinha que me dava direito a dois ingressos. Expliquei pra ele... ele agradeceu...



- Quer uma pipoca?

- Não sou muito de comer pipoca em cinema... prefiro comer outras coisas... (realmente não gosto no cinema... em casa eu gosto). Que tal pegarmos alguma cosa na lanchonete? (e caminhamos pra lá).

- Então, o que você quer comer?

- Ah, não tou com fome. Mas aceito uma cerveja...



Ele piscou o olho e foi no balcão. Pegou duas cervejas...Sentamos nas mesinhas... Ainda faltavam uns trinta minutos pra começar o filme. Eu também nem gosto de cerveja, mas achei que um pouco de álcool me relaxaria, pois de alguma forma eu estava um tanto tensa com o cara. Primeiro encanei no sebo. Depois comecei a achar que ele podia querer roubar livro a qualquer momento... Coisa muito ridícula, pois se fosse essa sua intenção, teria feito isso lá na rua do sebo, que é meio deserta. Sim, mas e aí? O que ele queria? A gente tá tão acostumada a temer tudo e todos que muitas vezes julga de cara tudo e todos... Aí fui tomando a cerveja e relaxando... Reparei que ele não bebeu a dele... E eu já tinha terminado a minha... Ele trocou a minha garrafa vazia pela cheia dele e disse:

- Pode tomar a minha.... Eu não bebo...

- Ah...eu também geralmente não... Mas vou tomar a tua também... (tomei meio como quem bebe água e fiquei imediatamente mais tonta... Ele olhava com cara de quem entendia o que eu estava fazendo)

-Vixe, fiquei tonta...

- Não se preocupe... é natural após duas cervejas...

- Juntou a sede... o calor...

- Mas e você, não bebe nada ou só não quis beber hoje?

- Tem um líquido que eu gosto... Tenho aqui... gosto muito... Você gostaria de experimentar?

- Quero! (nem pensei em nada... ele pegou na sua malinha, que parecia ser o “case” de um lap top pequeno um frasco escuro e metálico que não parecia ter mais de 10 ml. Aí foi que caí na real... Aquilo parecia algum tipo de droga... e potente, pois num frasco tão pequeno ainda tinha um conta-gotas.)

- Não é o que você está pensando?

- No que eu estou pensando?

- Que é algum tipo de droga...entorpecente...

- Olha cara, sou careta....não curto droga não...

- Não é... Lembra que eu não minto?

- E quem me garante?

- Você precisa confiar em mim!

- Preciso? (disse eu rindo)

- Precisa. Não precisa experimentar... pode continuar bebendo cerveja. Mas te garanto que isso aqui não é droga, nem tem álcool.

- E afinal o que é isso?

- É como a água pra vocês...

E ficou com aquele sorriso enigmático... Pegou o conta-gotas... Aplicou uma gota na boca... Eu tinha visto um lance parecido num filme sobre drogas, só que no filme a droga era colocada no olho. Fiquei esperando a reação dele... Nenhuma... Pensei que talvez pra ele aquela quantidade não fizesse efeito. E fiquei curiosa de experimentar também. Ali em plena lanchonete do cinema, uma e tanta da tarde. Peguei o frasco das mãos dele... Tentei abrir... não abria...

- Menina, preciso te falar uma coisa... Mas antes, aceite um presente meu ... (E pegou na “case” uma caixinha metálica. Abriu pra mim e dentro tinha um anel. Com um metal parecido com cobre, pela tonalidade e uma pedra toda lapidada, do tamanho de uma moeda de um real. Era um anel lindíssimo! E tão diferente, que me pareceu raro... Oxe, o cara me conheceu hoje e vai me dar esse anel? Hum-hum...tem algo errado nisso...)

- Muito bonito o anel. Mas não posso aceitar. Acabei de te conhecer. E também não posso te dar nada tão valioso em troca.

- Menina, você precisa esquecer as suas convenções... (pegou o anel e colocou no meu dedo anelar da mão esquerda. O lugar onde se usa a aliança de casado por aqui)

- Lindo esse anel... que material é esse? Coube certinho em mim...

- É um presente... aceite... não me diga não novamente... (Novamente? Pensei eu ! Oxe, eu disse não a que antes? Ele pegou o livro, tirou-o do saco e o pôs sobre a mesa. Pegou minha e só aí pude sentir a mão dele, que era suave como uma pétala de rosa... Isso parecia acontecer tão rápido... Aí ele encaixou a pedra do anel num das reentrâncias do livro... Senti que o livro abriu...

- O livro só abre com o anel?

- Sim, e só com a pessoa certa.

- Muito interessante. Tou começando a “viajar” nas suas idéias, Omy... posso agora finalmente descobrir o que afinal tem nesse livro?

- Não quer saber de nada antes?

- Preciso saber de alguma coisa antes? Tem algum perigo eminente se eu abrir e ler o livro? Mortos ressuscitarão? Múmias correrão atrás de mim? (disse em tom de ironia e riso)

Com um olhar um tanto triste, que eu ainda não tinha visto em seu rosto, ele disse:

- O livro é uma espécie de portal. Ao abri-lo podemos viajar no tempo e espaço. Só que você faz parte agora desse tempo, desse lugar. Se fizermos isso aqui, você vai literalmente não ver mais essas pessoas. Não é muito aconselhável. É melhor irmos a um lugar onde não estejam nos vendo. E ficaria mais fácil pra você se usar uma gota do “ibissus” (mostrou novamente o frasco conta-gotas).



Eu estava já acreditando em tudo aquilo. Era muito louco, mas quando a gente quer acreditar, a gente simplesmente acredita. Mas uma ponta de racionalidade chegou na minha cabeça novamente. Ok, eu aceito tudo que o ET disse, vou no banheiro com ele, uso a droga, morro, ele retira meus órgãos, leva o tal livro, que parece ter algum valor sentimental ...Argh! que horror! Essa história toda não faz sentido! Com tudo isso em mente ele me olhou nos olhos e disse:

- Você acha que se eu quisesse lhe fazer algum mal, já não teria feito? Eu sei que poso te convencer com fatos. Posso te mostrar algo de concreto. Mas eu preferia que você confiasse em mim...

- Ei, cara, eu te conheço há menos de uma hora. Como posso confiar tanto em você? Inda mais com essa conversa de livro, portal, sua droga conta gotas e esse anel aqui...

- É... eu suspeitava que falando apenas a verdade não daria certo...



Capítulo II – O livro misterioso caro



Estou num sebo... pego um livro diferente numa prateleira alta... A capa é toda trabalhada e não tem título. É pesado e tão bonito que independente do conteúdo quero-o pra mim. Já imagino ele em destaque na mesinha de centro lá de casa.

Estou nessa contemplação quando surge um cara parecendo recém saído de um cartaz de cinema. Altão, bonitão, cabelos ruivos na altura dos ombros, um cavanhaque que o deixa ultra sedutor. Vixe, que homem lindo!



- Você vai levar este livro? (e apontou pra relíquia que acabara de encontrar)

- Tou querendo....espero que não seja muito caro... por que?

- É que estou aqui por causa deste livro...

- Ahn....você também queria comprá-lo? Deve haver outros exemplares! Pergunte ao vendedor! Ás vezes eles têm outros guardados...

- Tenho certeza que não... chequei antes nos sites... esse é único...

- Ah, vamos ver o preço.

Andamos até o caixa. O vendedor diz:

- Custa R$ 1.000,00... Dividimos em 10 vezes...

Arregalo o olho e digo:

- Todo seu! Não pensei que fosse tão caro... ( O ruivo saca o cartão e paga em débito... eu vou saindo... Nem quis mais comprar nada...)

- Ei, menina, espera...

Eu paro no meio da loja e espero ele vir andando... Lindo no seu jeans azul claro e sua camiseta laranja.

- Sim?

- Tome! É seu!

- Como assim? Você acabou de pagar mil reais por esse livro! E também acabou de me conhecer!

- Não necessariamente assim...

- Como assim?

- É que tem pessoas que a gente não acabou de conhecer... a gente conhece de todo o sempre...

- Ah, você também é espiritualista?

- Sim... e ficarei muito feliz se além de aceitar esse livro você aceitar meu convite para um café... ou um chá....conheço um lugar no Santo Antonio com uma ótima vista pra Baia de Todos os Santos...

- Aceito o convite... o livro a gente vê depois... vamos no lugar que você falou... Podemos ir a pé pelo Pelourinho...

- Sim, podemos, mas meu carro está estacionado logo aqui na frente... Posso deixá-lo aqui e vamos a pé... Só que depois vou precisar volta a pé tudo de novo e não acho essa rua muito segura...

- Realmente essa rua é meio esquisita... Principalmente aos sábados, quando o comércio fecha cedo... Eu ia ao cinema sozinha, mas achei muito mais interessante sair com o ruivo bonitão!

O carro dele estava mesmo em frente ao sebo. Entramos e ele fez uma sugestão.

- Podemos ir ao café, ao MAM... ou a qualquer outro lugar que você queira. Na verdade eu tenho um pequeno barco ancorado na marina... Podemos velejar um pouco... o que acha?

- Acho ótimo...vamos sim...

Rapidamente chegamos na marina e o pequeno barco que ele se referiu era na verdade um iate com duas cabines.

Ele me mostra o frigobar e me oferece uma garrafinha do que parece um vinho, só que de cor alaranjada. Pega duas taças também laranja e serve nós dois com o líquido que é efervescente como minha vitamina C. Ergue a taça num brinde e diz:

- Ao nosso reencontro...

- Ao nosso encontro...

Sorvo o líquido e imediatamente me sinto muito leve...Me apoio mais ainda no sofázinho onde estou reclinada...

- Nossa, que bebida é essa? Sabor diferente... nunca tomei... Quer dizer, parece em cor com minha vitamina C...

- É uma espécie de bebida muito comum, de onde venho...

- E de onde vem? Fala tão bem... apesar de sua aparência pensei que fosse brasileiro!

- Sou fluente em muitas línguas... Mas sou de outro lugar... E é tão distante que talvez você nunca tenha ouvido falar... Não tem curiosidade de abrir o livro? Pesei que a curiosidade fosse um atributo de todas as mulheres!!! (rindo)

- Ah, com certeza... Traga-o...

- Mas antes, quero que aceite isso (e me abre uma caixinha metálica com um anel lindo dentro).

- Nossa que anel lindo... não posso aceitar... não posso retribuir...

- Pode retribuir com um sorriso... Não tem idéia do quanto me deixa feliz quando sorri... (Eu não me oponho... ele coloca o anel no meu dedo anelar esquerdo e cabe certinho... Fico olhando pra o anel...Que coisa mais linda! Tudo muito lindo... devo estar sonhando... e aquele vinho laranja me deixa com uma sensação tão boa...)

- Ainda não me disse seu nome...

- Perdoe-me....me chame de Omy...

- Prazer Omy, Guel.

Apertamos as mãos... que mão suave... suave e quente... parece um pêssego de tão aveludada... O que será que ele faz? Deve ser cirurgião...

- Vamos abrir o livro? O que você acha que encontrará dentro dele?

- Não faço idéia, mas é tão bonito!!! E diferente...parece uma caixa de jóias!

- Realmente, tem uma bela capa. O conteúdo pode superar essa apresentação tão rica... Mas e se o conteúdo não for bom?

- Mesmo que o conteúdo não se equipare a beleza da capa, dará um bom enfeite! (rindo muito)

- Você compraria um livro apenas pela capa, menina?

- Não...mas esse é diferente... E por que você pagou tão caro por ele?

- Não foi caro pra mim...

- Realmente, caro e barato dependem de quem paga, né?

- Sim, mas no caso desse livro, ele vale bem mais do que paguei... Posso confessar que tem um valor inestimável... Mais vinho?

- Sim, sim...

Amy pegou o livro e me deu... Eu olhei, examinei e não achei meios de abrir....

- Não sei abrir...

- Sabe sim... deixe-me ajudá-la. (Pegou a minha mão cm sua mão de pêssego quente e encaixou a pedra do anel com uma reentrância da capa. O livro meio que destravou... e emitia uma luz azulada...

- Nossa, que lindo...Tem uma luz saindo...nunca vi nada assim... Ah, era necessário o anel pra abrir?

- Sim, o anel e a pessoa certa.

- Você está querendo me dizer que só eu poderia abrir esse livro?

- Sim, cada livro tem sua própria chave-anel... E só sua dona o abre.

- Muito romântico isso... O que tem nesse vinho? Me sinto tão inebriada e tão à vontade... Tudo que você diz soa tão natural e verdadeiro aos meus ouvidos....

- Mas tudo que digo é verdadeiro... eu nunca minto!

- Engraçado, tenho a sensação de “de já vu”... De já ter ouvido você dizer isso...

- Eu sempre digo isso... sua sensação tem sentido...

- Com será que essa luz sai do livro? Posso abrir mesmo agora?

- Sente-se preparada para o conteúdo desse livro?

- Não tenho idéia do conteúdo! Não posso afirmar... Você conhece o conteúdo?

- Sim, conheço... E posso descrevê-lo pra você... Assim você pode decidir se vai querer lê-lo ou não. Ou você pode sozinha abri-lo e descobrir por si mesma... O que prefere?

- Olha, gosto desse clima de aventura e expectativa... Avoada como sou, em outro momento já teria aberto esse livro...Mas alguma coisa me deixa ponderada hoje... Não sei o que é... Será esse vinho?

- Talvez... Mas talvez você não queria e até tema inconscientemente o conteúdo do livro... Talvez não queira arriscar-se sozinha e prefira que intermedie esse momento. Você é inteiramente capaz de fazer isso sozinha e sabe disso.

- Capaz de abrir o livro eu sei que sou. Mas você é tão gentil... Parece mais seguro do que eu...sei lá... Abra pra mim!

- Se eu fizer isso agora, vai precisar de mim sempre.

- E precisar de você sempre significa ter você sempre a disposição?

- Não dessa forma... Eu, você, todos, somo livres. Podemos criar elos uns com os outros. Mas não podemos estar “à disposição” uns dos outros o tempo todo.

- Também acho...Muito embora muita gente quando arranja um namorado ou casamento pense isso...

- É uma boa comparação... Olhe, isso aqui é um chip... Ele é uma espécie de tutorial do livro. Você pode vê-lo antes de abrir...

- Tem até tutorial... Me responda de uma vez, do que se trata? O que tem nesse livro misterioso que você diz que me pertence?

- O livro guarda todos os seus segredos...

- Meus segredos? Eu não tenho segredos! E se fossem meus segredos, eu não precisaria de você pra acessar meus próprios segredos, não é mesmo?

- Veja bem, a memória é algo pouco compreendido até aqui. Algumas coisas são arquivadas, outras esquecidas... Acessar a memória ás vezes exige um conhecimento que nem todos têm...

- E você detém esse conhecimento?

- Para você eu posso realizar muitas coisas em seu próprio proveito...

- Hummm.... sei... Acho que o efeito do vinho ta passando.... As coisas que você diz não me soam tão verdadeiras e inquestionáveis com antes.

- O efeito realmente passou... Olhe-se no espelho... (E me ofereceu um espelho... Não sei porquê fiquei com medo de me olhar no espelho) Não o tema! Olhe para você mesma...

- Essa não sou eu! Que tipo de espelho é esse?

- Ele mostra o seu verdadeiro eu...

- Eu sempre brinquei com essa história de verdadeiro eu... Longe das máscaras, das aparências e das convenções...

- Mas esse rosto é um tanto diferente do meu... mais jovem... mais sereno... e brilha!! Se eu andasse por aí com esse rosto chamaria muita atenção! (rindo)

- Sim, e é por isso que você tem uma imagem condizente com os seus propósitos...

- Eu escolhi essa imagem? E se eu quiser mudar, posso?

- Pode... atualmente muita gente tem mudado aspectos físicos recorrendo a um cirurgião... O que não se aceita mais em si, se muda. Umas vezes pra o que se considera melhor e outras vezes nem tanto... Mas o que é realmente necessário mudar nenhum cirurgião pode, pois pertence ao interno e suprahumano...

- O verdadeiro eu...

- O verdadeiro eu... Olhe-se novamente no espelho...

Olhei sem medo dessa vez, e começaram a se formar imagens completas de outros rostos diferentes, todos eles eu sentia que eram meus, em diferentes períodos...

- Todas essas imagens foram minhas um dia?

- Exatamente. Há apenas um traço comum entre elas, percebeu?

- Sim, a atitude do olhar... É com se eu tivesse invariavelmente o mesmo olhar... Não exatamente os mesmos olhos físicos, mas um não sei que no olhar...

- Você tem em mãos agora o seu próprio livro. Há muito que o vem escrevendo e a cada dia continua a escrevê-lo. Pode abri-lo e vasculhar o seu próprio passado, pois ele é um portal que se liga ao tempo e ao espaço.

- Novamente sinto como já tivesse me dito isso...

- Já lhe disse isso muitas vezes antes...

- Então ao abrir o livro eu não vou sair daqui... Vou apenas relembrar o que vivi, é isso?

- Ao abrir o livro você não continua exatamente aqui, pois não é apenas uma observadora das imagens e acontecimentos. É como se você estivesse lá, sentido tudo, afinal ocorreu com você. Essa é uma das formas de abordar seus capítulos passados. Para os capítulos que você ainda não escreveu é diferente...

- A minha dúvida é uma só: eu vou sair daqui com esse livro ou vou continuar no mesmo lugar?

- Depende... Você pode atingir um nível em que lhe seja possível transcender ao lugar físico em que vive atualmente. Você não pode desmaterializar-se e pronto. Mas pode viajar a muitos outros lugares diferentes desses que já conheceu.

- E eu preciso do livro pra isso? Ele é uma espécie de amuleto? De chave? É isso?

- O livro encerra conhecimento genuíno, apenas isso. Suas chaves são pessoais. Ao tempo que as coisas lhe acontecem você interpreta com os seus sentidos os fatos.

- Isso não está acontecendo?

- Eu estou aqui. Não sou fruto de sua imaginação. O anel é seu conhecimento, que precisa ser aprimorados para abrir seus próprios acessos.

- Eu não bebi nenhum vinho inebriante que me facilitou a comunicação com você?

- Não. Você bebeu vitamina C antes de dormir... agora acorde! Tente recordar o melhor possível desta conversa!



Eu acordei. Peguei o celular e olhei o horário. Eram 4h e 25 min. Pareciam tão reais os dois sonhos. Comecei a analisá-los. As mensagens pareciam mais ou menos as mesmas. Só que no primeiro sonho eu comprara o livro precioso muito baratinho. Mesmo sem saber de seu valor, não queria entregá-lo pro Omy. Ele foi me parecendo um conquistador barato e depois desingrolou com a história do ET. Em seguida o mesmo livro, só que caro, comprado por alguém que não eu e que me parecia mais real. Mas me foi ofertado e mesmo assim eu não abro o livro totalmente. Apenas vislumbro sua luz azul. Me antecipo em saber primeiro o que há no seu conteúdo...



Não consigo achar um sentido muito claro. Paro de pensar no assunto. Omy bem que podia ser meu subconsciente me alertando pra alguma coisa. Ou podia simbolizar uma espécie de anjo da guarda que eu sei que tenho mas com o qual não consigo conectar direito. O fato é que quando comecei a escrever esses capítulos o livro era um portal que levava a outra dimensão. E eu ia pra lá. E voltava diferente. Isso eu sonhei de verdade, não é criação apenas. Quer dizer, quem disse que os sonhos também não são criações de nossa própria mente? Depende, né?



No tal sonho, não tinha livro nenhum... Aliás, eu deveria escrever sobre isso... Quem sabe outro dia?


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