quarta-feira, 12 de abril de 2017

Eros explica o amor - monólogo

Encontrei com Eros. Tomamos uísque na mesa da sala. E eu estava muito feliz de visitá-lo. O fato de estarmos sós e em sua casa deixava para mim um clima, uma certa tensão no ar. Para ele eu simplesmente não sei como era, mas gostaria de saber.

Quantas vezes não somos realmente livres para estabelecer uma conexão com o outro pautada também na efemeridade?

O medo de arriscar uma amizade tão bacana deve ter passado na mente de Eros. Na minha passava a vontade de ser abraçada, beijada, tocada... Contudo, não fiz muito para evidenciar meus desejos, atiçados ainda mais pelo álcool...

Enchi uma garrafa de água mineral vazia com a vodca que tinha trazido. Fomos na Pedra do Sal. Era uma segunda-feira despretensiosa. As ruas estavam cheias e eu confesso que não vi muita coisa. Eu estava lá, mas ao mesmo tempo não estava. Compreende?

Após umas horas, Eros "sequestrou" minha garrafa e disse que tinha acabado. Esse negócio de beber nunca foi bom pra mim. Perco o juízo que não tenho, perco a classe que tenho, perco o controle. É uma coisa horrível que eu sempre acho que vou controlar, mas a verdade é quase nunca controlo. E também não acho que é hora de parar. Tem algum prazer nisso e eu não quero nem celibato nem restrições. São tão poucos meus vícios. Que nem chega a ser um vício. Posso passar sem...Mas às vezes sinto que preciso... Enfim,não vou explicar nem teorizar nada... Cada um é que sabe de si...

Votamos de táxi. Eu insisti que não voltaria a pé, apesar da pouca distância a ser percorrida. Chegamos em casa e capotei. Não sei o que disse, mas provavelmente não disse nada demais. No dia seguinte achei minha garrafa com metade ainda da vodca. Ele sorrindo me explicou que escondeu de mim, porque eu já tava grogue. Nem fiquei com vergonha nem nada. Com os verdadeiros amigos a gente não fica preocupado no que vão pensar da gente. Acho que é o mais perto da liberdade se ser como somos que temos... De nos aceitarmos plenamente e sem julgamentos... Por isso gosto tanto de ter amigos. Valem mais que mil transas... E um milhão de orgasmos não valeria o prazer de ficarmos juntos simplesmente pela companhia... Não é físico... é muito mais... Percebe?

Passei alguns dias lá com Eros. Ele saia pra trabalhar e eu pra passear. Trocávamos algumas mensagens durante o dia e permanecíamos conectados nas rotinas um do outro.

Resolvi fazer um jantar. Andei até um supermercado pra descobrir o quanto o custo de vida lá é caro! Nossa! Fiz um escondidinho de carne. Comemos, mas sobrou muito. Colocamos em saquinhos e demos pros mendigos que ficam perto de sua rua. Como solteiro que não curte cozinhar, ele não tem nada além do que precisa em sua despensa e geladeira. Não acumula feito eu. Também não estraga. Tem lá uma fritadeira elétrica que frita sem óleo e fez umas coisas semi-prontas. Come em padarias e restaurantes. Prático, sem dúvida...

Sabe quanto tempo a gente se conhece? Rapaz, uns cinco anos... Não lembro exatamente onde foi a primeira vez. Em qual cidade, pois adoramos viajar e participamos de um mesmo grupo mundial de viajantes.

Uma vez eu estava em Vitória e ele também. Confesso que ainda não éramos amigos. Éramos só conhecidos e estivemos juntos nas muitas atividades de lazer propostas pelo encontro. Mas eu não me lembro muito dele. Mas aí, vem o inusitado. Depois de muitos dias, finalmente encontrei um "nativo" pra trocar fluidos. E deixei o grupo, depois de muitas doses de vodca para ir pro motel com o cara. Eu estava de passagem. Não ia ficar segurando nada por nada, entende? Todos os meus amigos já tinham pelo menos tido algo com alguém, e eu no zero a zero. Enfim, não tenho que explicar porque queria transar, né? Não precisa.

O cara era muito louco, mas eu prefiro os doidos assumidos aos certinhos transtornados que não se mostram como são. Sempre sabemos o que esperar das pessoas que assumem sua loucura. Dos que tentam usar a máscara da "correção" e dos bons costumes, eu tenho até medo... É muita coisa represada que um dia pode explodir. Prefiro os que não represam suas águas... Enfim... Não conhecia Vitória. Só os pontos turísticos vistos até então. Não sei como, Eros estava lá. E também não sei como, foi ele quem nos levou no motel. Fiquei muito grata com isso, pois escolhemos um perto de onde eu estava hospedada. Acho que foi a partir daí que prestei atenção em Eros. Querendo, ou não, ele estava me protegendo e cuidando de mim. Afinal, se o estranho resolvesse me fazer em picadinho, sabia que eu tinha um amigo que foi testemunha de que ele estava comigo... Enfim, a gente não pensa no perigo potencial que todo ser humano encerra. Não pensamos que aquele estranho que está ali cheio de amor pra dar pode ser um cara traumatizado, problemático, tarado ou repositório de uma DST! Ok que se pode usar camisinha, mas camisinha não impede tudo. E os beijos? E o sexo oral?Bom, isso é outra história e eu também não quero pensar nisso agora.

Chegamos no motel com aquela cama redonda e espelho no teto. Luz difusa, que eu gosto da penumbra. Me favorece... O cara pediu licença e foi ao banheiro. Eu peguei um keep cooler no frigobar. Ele me confessou duas coisa que eu não sabia:

- Preciso cheirar... Tenho namorada...Não poderei dormir aqui com você... Ainda vou buscá-la numa festa de casamento mais tarde... Ela me controla elo celular... Mando mensagens e ela pensa que estou em casa vendo filme.

Pensei em como é fácil fazer as pessoas acreditarem nas suas falsidades. E em como seria tao melhor não precisarmos ocultar essa coisas. Entendi... Era só um sexo rápido. Mas como era madrugada, eu tinha pedido pernoite e dormiria lá. Trocamos uns beijos e tal... Ele não correspondia, sabe? Justificou que a cocaína o deixava aceso, mas interferia na sua ereção... Tudo bem, era só usar os dedos, a língua... a criatividade! Mas não sei porque homem tem paranoia de broxar. Broxa e se sente "impotente". Pô, sexo não se resume a penetração! E eu nem tava afim de muito vuco-vuco. Queria abraços, carinhos e desfrutar de um cara másculo, interessante e bonito. Sim, esqueci de dizer, o cara era do tipo cuidado... Aliás, era bonito mesmo.. Cheiroso, bem vestido, jovem, com cara de menino criado com leite Ninho ferro, sabe? Nunca tive queda por caras grosseiros ou deselegantes. O moço era gentil e educado, e, meio sem graça, pediu mil desculpas. Eu o abracei e disse que não tinha problemas. Deitamos de barriga pra cima, vendo nossas silhuetas no espelho do teto e ficamos conversando. Perguntei sobre quando começou a usar drogas e tal... Ele contou que começou aos doze com álcool, depois maconha e depois cocaína... Contou da namorada... Eu perguntei o por quê, se dizia que gostava tanto dela, por que a traía? Ele deu a explicação que todos dão. Que sente tesão por outras mulheres e que precisa de aventura e fantasia... Perguntou se eu não queria experimentar cocaína... Deus me livre! Se álcool já me fazia fazer um monte de loucuras, imagine! Nem pensar... Ele sorriu, me deu um beijo rápido, foi ao banheiro, cheirou de novo... Consultou o celular, pediu um taxi no interfone e se foi. Deixou tudo pago antes. E eu dormi. Quer dizer, tentei.

Senti uma especie de cobra gigante, parecendo um dragão se enroscando pelo chão. E um casal meio que me observava, meio algemada, sem poder me soltar. Foi um pesadelo horrível! Acordei assustada. Quis sair imediatamente do motel!  Já eram umas cinco e meia e decidi ir a pé, porque não estava com o endereço da casa do amigo que me hospedava, mas sabia chegar lá a pé, já que estava bem  perto... Uns quatro quarteirões. Um jornaleiro passava e pedi para acompanhá-lo. Mais adiante desceu uma moça do ônibus e juntou-se a nós...

Saí e amanhecia. Tive medo e me arrependi de deixar o grupo por causa de um cara qualquer. Sem o efeito da vodca, analisei friamente o perigo que corri. Mas muitas mulheres morrem nas mãos de seus namorados e maridos de muitos anos. Pensam que conhecem aquela pessoa e um belo dia, por ciúme ou qualquer coisa injustificada, eles matam... Se um cara é passional, ciumento ou controlador, é o sinal vermelho pra mim. Não fico! Não quero! Há quem diga que o coração não escolhe, mas o meu escolhe sim, dentro de certos parâmetros! Personalidade violenta, é demonstrada no cotidiano. É a explosão por nada,  a forma pesada de ver os fatos... Enfim, não aceito que encostem um dedo em mim. Nem que me infrinjam violência verbal! Muito menos psicológica! Mas há quem permita... Não porque não sabe conscientemente que isso está errado, que a pessoa não vai mudar, mas por baixa autoestima e outros fatores... Porque é preciso muita autoestima para preferir ficar só a mal acompanhada... Cheguei em casa... Tinha a cópia da chave? Não lembro... Mas eu estava falando de Eros...

Certa vez estava em Belo Horizonte depois de uma jornada esquisita... É, foi esquisito. Fui parar numa dita comunidade espiritual no interior de Minas que na verdade é uma loucura... Mas se tem algo que pode favorecer a loucura, é a religião. O sujeito faz um monte de besteira, rouba, mata, estrupa e depois vira "religioso". Tenta a todo custo comprar sua entrada no céu. Como quem compra um bilhete pro jogo de futebol. Como se fosse possível cambiar, trocar as moedas com Deus!! E tem os que não cometeram crimes, na acepção da palavra, mas que não são definitivamente boas pessoas. São homofóbicos, misógenos e julgadores da moral alheia. Nossa, quanta hipocrisia! Ninguém aqui é  perfeito... Nem temos que ser... cada um com seu tapete... cada um com suas escolhas e vicissitudes... Viver como é importante e justo e não como dizem ser certo... Aliás, o lugar lá, dito de iluminação era terrível porque cheio de gente prepotente a querer ser melhor e controlar os demais. Pra resumir, digo que fiquei três dias e isso porque queria conhecer as coisas de perto... Enfim, saí de lá, fui pra São Tomé das Letras e depois BH.

Em BH fiquei no Ágape, amigão de quem gosto especialmente. Tinha lá uma cachaça artesanal que tomei várias vezes, mas nunca suficiente pra mudar meu olhar ou percepção. Partilhamos várias refeiçoes com gosto. Passeamos muitas vezes até que chegaria o  domingo que ele iria almoçar com seus pais. Me indicou o Inhotim, que eu também indico pra todo mundo. É lindo e surreal... Só digo isso! Fica a uns 60 quilômetros de BH. Foi aí que ele me disse que tinha outra pessoa indo pra lá e de carro. Para minha grata surpresa era Eros, de passagem também pela cidade e que eu nem sabia que estava lá. Combinamos os três, nesta noite anterior a viagem e fomos numa pizzaria. Mais uma vez, afirmo, o amor que nos une aos amigos é dos mas bonitos e sinceros...

Na manhã seguinte Eros veio me buscar. Fomos conversando, que assunto nunca faltou. Essa viagem é anterior aos uísques que contei no início. E o episódio de Vitória é o mais antigo de todos. Então, acho que era a terceira vez que nos encontrávamos viajando. Porque ainda nos encontramos em Goiás, mas interagimos muito pouco lá, pois estávamos em eventos que não coincidiam muito.

No Inhotim optamos pelo carrinho. Ele gosta de caminhar e eu de moleza. E foi bom, pois sem os carrinhos, que pegávamos pra ver as muitas atrações específicas do parque, não daria pra ver tudo, pois é muito grande. Pegamos o roteiro e fomos indo um a um. Algumas vezes foram vários minutos para encontrar um instalação surreal ou um grupo de quadros que achei horríveis, mas arte é isso... Percepções... Sentimentos contraditórios... Alguma coisa a gente tem que sentir... E nem você sente a mesma coisa duas vezes...

Chegamos num dos locais que tinha uma forma de domo... Nossa aprecia que não estávamos ali e sim em algum lugar alienígena... Tenho fotos de tudo... E na memória as coisas vão se apagando com o tempo, mas muita coisa boa permanece.

Entramos num recinto meio escuro, com uma espécie de tango e projeção de um casal dançando. Só nós dois... Dançamos um pouco... Mas eu estava meio desajeitada, não sei porque. Geralmente danço bem... Não posso deixar de confessar que esses lugares onde íamos e quase sempre estávamos sozinhos, geravam uma espécie singular de tesão. E não pelo Eros em si, que nessa época não me despertava nada erótico, mas pelo erotismo do lugar... Poderíamos dançar e sentir aos poucos o cheiro, a pele...  Mas sabe que me afastei e disse que era melhor dançarmos soltos... E assim fizemos... Ficamos lá girando ao som da música... Num movimento solo, quando poderíamos nos sintonizar um pouco mais. Sem pretensão... Enfim, não dá pra voltar atrás em nada na vida... É importante estar completo e inteira em tudo que faço, porque pelo menos posso dizer que vivi o momento... Da melhor maneira que pude... Passamos literalmente o dia todo juntos... E foi uma experiência ímpar, que não poderei nunca ter no mesmo nível e do mesmo jeito com qualquer outra pessoa e nem mesmo com o próprio Eros. Se ele não estivesse lá, eu não teria boas fotos, Primeiro que teria que fazer selfie o tempo todo e segundo que não teria com quem trocar impressões.

Tempos depois Eros veio, que agora não sei precisar se antes ou depois, Eros esteve na cidade. Não me avisou e nem me procurou, visto que não éramos amigos ainda. Ou éramos, mas não sabíamos, visto que a verdadeira amizade não tem tempo... Literalmente. Ele se hospedou com outra pessoa que era de minhas relações de amizade na época e hoje não é mais. Ou seja, não posso chamar de amiga. Amigos são para sempre e fim! Enfim ela me ligou perguntando se poderia hospedá-lo, pois seu vôo sairia de madrugada e ela achava perigoso a saída de seu apartamento, que não tinha porteiro. Eu nem sabia que era Eros, e aceitei ... E que surpresa boa! Mesmo sem ter planejado me ver, ele veio parar aqui. Por algumas horas. Aí conversamos um pouco... Ajeitei o sofá e fim. Não lembro se saímos ainda... Acho que não. Foi só uma noite pra dormir mesmo.

Recentemente, ele veio de férias com a namorada. Marcamos de assistir um show e fomos. Meu celular descarregou e eu prevendo isso já tinha enviado o zap de outra amiga pra ele. Ele ligou, mas não ouvimos. Rodei pelo Largo da Mariquita olhando ao redor e nada. Mandei mensagem no face de minha amiga e fiquei um tanto ansiosa, pois detesto marcar e não conseguir encontrar. Finalmente ele ligou de novo de seu número "confidencial" e em breves minutos estávamos reunidos!

Sua namorada, a quem ele abraçava e cuidava, era bem simpática. Sorri, sapequei dois beijinhos no rosto e fiquei achando que os raios que ainda não tinham caído aquela noite, bem que poderiam fazê-la de pára-raio... Mentira... Não pensei nisso. Mas que seria engraçado, seria. Meu Deus! Não seria não... Mas enfim, pensei em como gostaria de ter um namorado dedicado, sensível , inteligente e amigo como ele. Isso eu pensei e não tenho vergonha de dizer. Não invejei nada. Apenas desejei algo, não ele propriamente. Vimos o show, nos despedimos e ele continuou viagem. Com ela.

Ah, mas teve um dia D. Um dia de prova de fogo que põe em cheque tudo que você acredita. Foi assim: eu fiz um almoço pro meu filho que estaria voltando na Espanha naquele dia. Meu filho estava em Praia do Forte e não veio pro almoço! Pense na decepção! Recebi alguns amigos. Minha mãe ficou até sete da noite. Eu estava bebendo vinho desde cedo. De tarde Eros chegou. Tudo que vou contar, foi na versão de Mamy, pois não lembro de nada disso! Ele veio e eu naturalmente fiquei feliz. Meu filho só veio se despedir de mim na noite, sei lá que horas, mas aí foi tudo bem, pois não adianta remoer as coisas. Era almoço e ele chegou pra ceia. Mas importa que chegou, né? Filho a gente perdoa sempre e é talvez por isso que de vez em quando eles abusem da nossa, digamos, "elasticidade". Aliás, o amor pelos filhos não é incondicional coisa nenhuma. Nós que aprendemos que deve ser... Assim como o amor filial nem sempre existe... Mas isso dá um monólogo doloroso e cheio de flash backs... Fica pra outro dia...

Mamy adorou Eros. Como não gostar de cara de alguém tão bacana? A culpa não é minha se vez por outra acho que os caras que realmente gostam de mim tem que gostar de minha família também. Esses caras que implicam com sua mãe ou com sua irmã, por exemplo, precisam de terapia. A família, por mais louca que seja, tem implicações espirituais... E é preciso respeito a isso... Enfim, todos os meus amigos homens gostam de minha mãe e ela deles. Então, isso é uma vantagem. Não tem coisa mais odiosa que sogra chata e vice versa. Embora na prática eu seja uma sogra apenas razoável. Mas eu nem implico nem atrapalho... Implico???

Pra resumir, Mamy disse que eu estava pra lá de Bagdá e com a fala embolada confessei todos os meus desejos reprimidos por ele. Disse um bocado de abrobrinhas, que certamente não fui eu, mas a "entidade"! Sobre a entidade, também cabe um outro texto, que dar conta de tudo num só é impossível. Mas nós somos assim, cheios de trimiliques... Uma personagem nunca é rasa na cabeça da autora. Embora haja personagens tão inverossímeis, que só podem ser ficcionais. Eu sou real e isso aqui é um confessionário. Vestida de arte eu posso me desnudar de mim mesma e você podem me aceitar ou julgar, porque não tou nem aí. Se estivesse não pintaria com as cores vivas da recordação cada linha dessas...

Falei por palavras que não sei e certamente falei a verdade mais escondida, porque sem os freios do pensamento lúcido, não tem filtro. E sem filtro, sem peneira, sem medo e sem vergonha, disse mesmo a historinha do dia do uísque. E que ele não me quis e tal. E que teve um dia que dei uma massagem nas costas dele, e eu acho que poderia evoluir... Mas na verdade, de fato, mesmo que quisesse, não poderia, pois eu estava bêbada e uma pessoa bêbada, por mais que se insinue ou mesmo que queria transar, não está em sã consciência e deve ser respeitada. E respeito nunca faltou entre Eros e eu. Mamy disse que ele foi paciente. E que respondia às minhas duras e desmedidas palavras com calma e tranquilidade. Ela também me recriminou e criticou pelo comportamento. Disse que não fosse minha cachaça, eu encontraria finalmente um homem legal pra casar. E que pessoas boas, decentes e até mesmo bonitas, estão ao meu redor tempo todo, como amigas. Mas não sai disso.

E aí eu pensei que se alguém quiser me amar, que me ame exatamente como sou. a
Assim, com meus defeitos e total entendimento que não vou mudar pra agradar ninguém. Eu preciso mudar? Por amor a quem? Não sou perfeita, não tenho pretensões de ser e acho impossível qualquer mudança que não surja da necessidade intrínseca do ser...

Quando foi embora, deu carona a Mamy... Sempre cortês...sempre gentil... Mandei mensagem no dia seguinte pedindo desculpas. Ele muito fofo disse que não tinha o que desculpar e que foi tudo lindo.  É confortador ouvirmos o que queremos , mas tem os amigos que falam as verdades nuas e cruas que doem. Que o diga meu amigo de Vitória, o Philos. Me deu uns conselhos, disse que eu deveria "cuidar melhor do meu jardim" e me botou pra chorar... Na hora fiquei a-rre-ta-da!!! Me justifiquei e tal...Tentei persuadir que não era bem isso, mas depois, dei razão a ele... Era preocupação e afeto. E às vezes achamos que ninguém precisa se preocupar com a gente. E não precisa? Precisa? Somos tão fortes, resolvidas e auto-suficientes... E tão bestas por outro lado... Quem não tem seus momentos de vulnerabilidade?

Ao dizer que tava tudo muito bem, Eros não estava sendo complacente. Acho que não o afetou mesmo, só isso. Tem coisas que ganham uma dimensão muito grande para umas pessoas e para outras não. Eu por exemplo, sou muito tolerante com os erros. Os alheios e os meus também. Não fico nessa de curtir ressaca moral e afins. Errei, tá errado!,Que eu reconheça e dê prosseguimento à vida. Que aprenda com a experiência. Não adianta guardar ressentimento, dor... Tudo isso é sofrimento e eu não estou aqui pra sofrer! Mas há quem reclame do sofrimento e sofra porque justamente optou por isso. Como assim, optou? Ora, optando! Se não alimentarmos certas coisas, elas não crescem. A beleza da inteligência consiste em fazer as escolhas certas. Penso sempre que fiz as melhores escolhas para determinado momento.

Eros explica o amor é uma provocação para a minha reflexão sobre os tipos filosóficos de amor. Sem querer explicar e lhe furtar o prazer de maquinar o que foi minha experiência, compartilhada aqui, está óbvio que não existiu erotização entre a gente. Não! Não tem, não parece caber, mas a gente fica pensando que o sexo não precisa ser visto como algo que pode mudar as coisas. Porque na maioria das vezes, o sexo não muda nada. Nem "inflói nem contribói", sabe? Porque podemos beijar no rosto e não podemos dar beijo na boca também. A língua é só um órgão. Porque achamos que o fato de entramos um no corpo do outro podemos mudar a forma como vivemos e devemos ter um tipo de compromisso com o outro por isso. Isso está ultrapassado! Eu não quero um relacionamento em que meu parceiro seja fiel em seu corpo a mim. Não é crucial! Que me importa que ele transe com outras pessoas? Acaso tenho o direito de privá-lo de seu próprio desejo? Quem sou eu para decidir que ele deverá por toda vida comigo desejar apenas a mim e ninguém mais? Isso não faz sentido! Mas faz sentido ter escolha. Escolher partilhar todo seu tempo comigo e ser "meu" e de ninguém mais é incompreensível. Estamos aqui para amar ao próximo e nos reduzimos a um pequeno círculo. Meio que por obrigação, tradição ou educação. Ou tudo isso junto em diferentes graus.

Eu quero amar com intensidade aos que assim desejem também. Aos que desejam o amor sem desejar o corpo. Esse amor fraterno e espiritual... Que nos une e nos conforta. Que nos aconchega e é tão significativo. Dizem que se chama amor Philos.

Eu quero amar de forma sublimada, sempre desejando o bem, o crescimento. Rejeito o sacrifício para Deus. Deus não precisa de sacrifícios. Está muito, mas muito acima disso. Nem nós precisamos nos sacrificar. No amor cabe o bom, o belo, o virtuoso. No amor cabe a felicidade, o êxito a bem aventurança. No amor, e especialmente no amor de Deus, não precisamos sofrer. Se sofremos, é porque projetamos isso. Como arquitetos meticulosos, vamos engendrando coisas que depois ficam enormes e não nos damos conta de fomos nós que construímos. Ao longo de anos, ou segundos... Ah, e as dores, enfermidades, guerras e desigualdades? Quem criou? Quem pode recriar? Quem pode mudar o mundo agora, heim?  Não estamos num jogo, como bonecos manipulados. Temos livre arbítrio!!! Então, existem muitos equívocos nesse amor que o povo acha que é para Deus ou emana de Deus. E a distorção das religiões tem seu preço... Ai de quem ousar pagar achando que está quite com Deus. Deus não negocia e nem precisa de nada. Não há troca de favores humanos nem intercâmbio... Mas há entre nós. Fica aqui tudo que é material...Até o corpo não nos pertence...Mas o amor, esse sim, nos pertence... Sai de nós, entra em nós... Pense,os na gratuidade do amor...

E meu amigo Eros? Não, não é um amor sexual para mim. Talvez seja até um amor romântico. Que deseja se sentir acarinhado e querido, mas que não coloca o prazer físico em primeiro plano...

Eros explica  amor, porque no fundo, no fundo, até mesmo os maníacos, os depravados, o fetichistas, os carentes, os perdulários, os exibicionistas, os solitários e toda uma gama de adjetivos que tentam rotular os comportamentos humanos, cabem dentro de uma profunda vontade de conhecer a plenitude do amor.

Assim me afigura e você não precisa concordar. Mas se um dia amou e foi amado, por pais, parentes, amigos ou amantes, sabe o quanto é bom e o quanto não sabemos ser felizes sozinhos. Embora possamos viver sem o Eros, não podemos viver sem o afeto, a apreciação, a compreensão... Meu amigo Eros, estou tão perto de você... E nosso elo é indissolúvel! Tenhamos novos momentos juntos, pelo mundo! A coisa mais preciosa da gente são as nossas diferenças... Dentro das nossas singularidades...

Guelnete Pinna

Salvador, 12.04.17  05:10







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