A essência da princesa
Num reino distante, nasceu uma princesinha muito diferente
de seus pais
Seu pai, forte e belo
Sua mãe linda e prendada
E a princesinha feia, coxa e cega
Dos pais, não tinha nada...
Aos 18 anos, buscaram-se maridos
E mesmo vendo o reino rico e concorrido
Nenhum belo príncipe fez proposta
A princesinha inteligente,
Sem ter um pretendente
Poderia um dia ser deposta?
Seus pais a amavam ternamente
E queriam que sua linhagem tivesse continuidade
E para tal, quebrando o protocolo, gravemente
Permitiram que qualquer homem se candidatasse...
Mais uma vez, nenhum candidato...
A princesa feia de infância, também tornou-se obesa
Era eloquente e diferente
De todos os seus parentes da realeza...
Um dia surgiu na cidade
Numa noite de tempestade
Uma certa mulher com fama de bruxa
Poderosa e irreverente
E talvez a única vivente
Capaz de tirar algum feitiço pre-existente
Chamada foi ao reino
E lá numa noite de lua cheia apareceu
A bruxa tinha cabelos vermelhos
Pele alva e corpo perfeito
E seu sorriso era belíssimo
Impressionava tanto sua figura
Que pra desespero da rainha
O Rei se viu imediatamente
Terrivelmente
Apaixonado...
E a feia princesinha
Que alma boa tinha
E grande capacidade de prever o futuro
Sonhou com um grande muro
A lhe separar da humanidade...
Chamou seu querido conselheiro
Um sábio e velho guerreiro
Fiel aos seus pais e ao seu país
Também o fiel guerreiro
Com coração puro e aberto
Temeu pelo futuro incerto
Daquele seu doce reino
O Rei estava cego
De um desejo perverso
Pala bruxa bela
Tal foi sua demonstração de afeto
Que ela, lhe pediu no mesmo dia:
“Se me queres e me amas
Me entregas teu bem mais precioso:
Tua filha!”
O Rei não sabia o que fazer
Mas estava louco de paixão
Magoava com sua atitude sua esposa
Colocava o reino em perigo
E nada disso percebia...
Preso que estava a uma ilusão
Parecia enfeitiçado
Pela bruxa ruiva e sua magia...
Que fez a jovem princesa
Desprovida de beleza
Mas belíssima em sua essência?
Desafiou a bruxa e seus encantos
Para uma prova de canto
De jogos e destreza
Se ganhasse a bruxa, teria tudo que exigiu
Se ganhasse a princesa, a bruxa iria embora
E os deixaria em paz...
Apesar dos juízes todos enfeitiçados
Votarem na bruxa como melhor cantora
O povo, presente na prova
Vaiou a bruxa formosa
E os ecos desse gesto
Trouxeram os juízes de volta
A natural imparcialidade
E na prova de canto de verdade
Venceu a princesa sem engodo...
Veio o jogo de tabuleiro
Xadrez, pra ser exata
E mesmo sendo uma jogadora nata
Por conta dos sortilégios
A princesa perdeu
nessa etapa
E sendo assim
Tivemos um empate no fim
A prova de destreza
Consistia em arrumar um jantar na mesa
Que agradasse ao Rei e a Rainha
E é claro que a bruxinha
Usou de seus poderes
Ao provarem seus pratos
Feitos com ossos de cadáveres e ratos
Os reis foram mais uma vez hipnotizados
Enquanto que a feia princesinha
Na sua mesa tinha
Saborosas iguarias
Quando os reis encantados
Iam dar seus veredictos
Eis que se ouvem os gritos
De revolta do povo leal
A bruxa não tinha poder
Para deter
O público em geral
Seus feitiços eram restritos
E fosse o povo omisso
A prova estaria comprometida
E bruxa ruiva
Teria o que pedia...
Os reis saíram da hipnose
Com o grito em apoteose
De seus súditos em clamores legítimos
A bruxa foi presa e banida
E assim perdeu seu poder
Agora todos podiam ver
Como ela realmente era...
Um corpo perfeito,
Um rosto magnífico
E um cheiro fétido
Que lhe vinha da alma caída...
E partir desse dia no reino
Todos identificavam o cheiro
Da princesinha feia
Era tão encantador o seu perfume
Que lhe vinha da alma pura e bondosa
Que qualquer pessoa receosa
De sua aparência diferente
Logo percebia
Que ser humano fantástico existia
Sob a capa de um corpo sem apelos...
Assim, um dia, sem rodeios
Veio um jovem desprovido de recursos
Mas cheio de amor pela princesa
Porque a via em sua inteireza
E com ela queria se casar...
Os pais abençoaram a união
E unidos numa só emoção
A feia princesa
Dotada de grande beleza
Em seu amoroso coração
Casou com um jovem sem realeza
Mas cheio de caráter e nobreza
E assim viveram felizes
Num reino cheio de matizes
De luz e de crescimento
Não havia guerras
Nem conquistas
Porque o povo enxergava
Além de suas vistas
E a feia princesinha
Tornou a mais admirada rainha
De todos os tempos conhecidos
Porque a beleza não vem de fora, apenas
Ela emana de dentro
E o belo sem um rumo
Sem um bom sentimento
Um dia se deteriora
E que pena que o preconceito ainda mora
Em tantos pensamentos
Espero que com essa história
Você reveja seus conceitos
De ética, de essência e de aparência
E passe a enxergar direito
Guel Pinna
Salvador, 08/04/20414 03:57
2 comentários:
Singela e verdadeira!
Bela História, dá um lindo livro infantil nesta temática "Contos de Fada"com artes bem coloridas.
Parabéns!
Postar um comentário