terça-feira, 8 de abril de 2014

A essência da princesa




A essência da princesa

Num reino distante, nasceu uma princesinha muito diferente de seus pais
Seu pai, forte e belo
Sua mãe linda e prendada
E a princesinha feia, coxa e cega
Dos pais, não tinha nada...

Aos 18 anos, buscaram-se maridos
E mesmo vendo o reino rico e concorrido
Nenhum belo príncipe fez proposta
A princesinha inteligente,
Sem ter um pretendente
Poderia um dia ser deposta?

Seus pais a amavam ternamente
E queriam que sua linhagem tivesse continuidade
E para tal, quebrando o protocolo, gravemente
Permitiram que qualquer homem se candidatasse...

Mais uma vez, nenhum candidato...
A princesa feia de infância, também tornou-se obesa
Era eloquente e diferente
De todos os seus parentes da realeza...

Um dia surgiu na cidade
Numa noite de tempestade
Uma certa mulher com fama de bruxa
Poderosa e irreverente
E talvez a única vivente
Capaz de tirar algum feitiço pre-existente

Chamada foi ao reino
E lá numa noite de lua cheia apareceu
A bruxa tinha cabelos vermelhos
Pele alva e corpo perfeito
E seu sorriso era belíssimo
Impressionava tanto sua figura
Que pra desespero da rainha
O Rei se viu imediatamente
Terrivelmente
Apaixonado...

E a feia princesinha
Que alma boa tinha
E grande capacidade de prever o futuro
Sonhou com um grande muro
A lhe separar da humanidade...
Chamou seu querido conselheiro
Um sábio e velho guerreiro
Fiel aos seus pais e ao seu país

Também o fiel guerreiro
Com coração puro e aberto
Temeu pelo futuro incerto
Daquele seu doce reino

O Rei estava cego
De um desejo perverso
Pala bruxa bela
Tal foi sua demonstração de afeto
Que ela, lhe pediu no mesmo dia:
“Se me queres e me amas
Me entregas teu bem mais precioso:
Tua filha!”

O Rei não sabia o que fazer
Mas estava louco de paixão
Magoava com sua atitude sua esposa
Colocava o reino em perigo
E nada disso percebia...
Preso que estava a uma ilusão
Parecia enfeitiçado
Pela bruxa ruiva e sua magia...

Que fez a jovem princesa
Desprovida de beleza
Mas belíssima em sua essência?
Desafiou a bruxa e seus encantos
Para uma prova de canto
De jogos e destreza

Se ganhasse a bruxa, teria tudo que exigiu
Se ganhasse a princesa, a bruxa iria embora
E os deixaria em paz...
Apesar dos juízes todos enfeitiçados
Votarem na bruxa como melhor cantora
O povo, presente na prova
Vaiou a bruxa formosa
E os ecos desse gesto
Trouxeram os juízes de volta
A natural imparcialidade
E na prova de canto de verdade
Venceu a princesa sem engodo...

Veio o jogo de tabuleiro
Xadrez, pra ser exata
E mesmo sendo uma jogadora nata
Por conta dos sortilégios
A princesa  perdeu nessa etapa
E sendo assim
Tivemos um empate no fim

A prova de destreza
Consistia em arrumar um jantar na mesa
Que agradasse ao Rei e a Rainha
E é claro que a bruxinha
Usou de seus poderes

Ao provarem seus pratos
Feitos com ossos de cadáveres e ratos
Os reis foram mais uma vez hipnotizados
Enquanto que a feia princesinha
Na sua mesa tinha
Saborosas iguarias

Quando os reis encantados
Iam dar seus veredictos
Eis que se ouvem os gritos
De revolta do povo leal
A bruxa não tinha poder
Para deter
O público em geral
Seus feitiços eram restritos
E fosse o povo omisso
A prova estaria comprometida
E bruxa ruiva
Teria o que pedia...

Os reis saíram da hipnose
Com o grito em apoteose
De seus súditos em clamores legítimos
A bruxa foi presa e banida
E assim perdeu seu poder
Agora todos podiam ver
Como ela realmente era...
Um corpo perfeito,
Um rosto magnífico
E um cheiro fétido
Que lhe vinha da alma caída...
E partir desse dia no reino
Todos identificavam o cheiro
Da princesinha feia
Era tão encantador o seu perfume
Que lhe vinha da alma pura e bondosa
Que qualquer pessoa receosa
De sua aparência diferente
Logo percebia
Que ser humano fantástico existia
Sob a capa de um corpo sem apelos...

Assim, um dia, sem rodeios
Veio um jovem desprovido de recursos
Mas cheio de amor pela princesa
Porque a via em sua inteireza
E com ela queria se casar...

Os pais abençoaram a união
E unidos numa só emoção
A feia princesa
Dotada de grande beleza
Em seu amoroso coração
Casou com um jovem sem realeza
Mas cheio de caráter e nobreza
E assim viveram felizes
Num reino cheio de matizes
De luz e de crescimento
Não havia guerras
Nem conquistas
Porque o povo enxergava
Além de suas vistas

E a feia princesinha
Tornou a mais admirada rainha
De todos os tempos conhecidos
Porque a beleza não vem de fora, apenas
Ela emana de dentro
E o belo sem um rumo
Sem um bom sentimento
Um dia se deteriora
E que pena que o preconceito ainda mora
Em tantos pensamentos
Espero que com essa história
Você reveja seus conceitos
De ética, de essência e de aparência
E passe a enxergar direito

Guel Pinna
Salvador, 08/04/20414 03:57

2 comentários:

  1. Bela História, dá um lindo livro infantil nesta temática "Contos de Fada"com artes bem coloridas.
    Parabéns!

    ResponderExcluir

Você leu... gostou? Faça um comentário! Não gostou? Faça um comentário! Ficou indiferente? Faça um comentário! Faça logo esse comentário, criatura!