segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Florir da primavera


Gosto da idéia de pensar que alguém como você existe. E que se pudéssemos ir ao Parque da Cidade, numa radiosa manhã de sábado, domingo ou segunda, estender uma canga no chão e ficarmos na sombra das árvores sentindo o cheiro da terra recentemente molhada e a brisa passando por entre os nossos corpos simplesmente vestidos, seríamos perfeitamente felizes.


Levaríamos uma cesta de vime, como nos encontros do passado remoto? Talvez você chegasse com uma caixa de madeira que serviria de moldura para o nosso vinho tinto... Caixa que você pintou pensando em mim, brincando no jardim de cascatas com dragões prateados belíssimos! Ainda gosto dos dragões e por isso usarei aquele anel que tanto chamará sua atenção...


Ah, Dimitriv, quando um de nós reencontra alguém da nossa esfera, é complicado. Ficamos mais conectados com o sublime... inspirados, leves, quase que transportados ao idílio do começo... Porque se tirarmos as pedras do caminho (e eu removi as minhas quando você encontrou as suas), o complexo fica simples! Mas isso é outra história... É ainda cedo pra fazer suposições... E no fim das contas eu mantenho minhas asas... Você podou as suas... são as nossas escolhas, nossas vãs opções.


As formigas passeando sobre a grama são tão lindas! O balançar sussurante das folhas verdes das árvores tão orquestrado... Percebe, que o meu ser frente ao teu fica completamente maravilhado... e eu também me sinto maravilhosa... Com certeza que perdi a coloração quase avermelhada de algumas regiões do corpo... tou me sentindo muito azul-esverdeada... uma luminosidade ímpar, como há muito não acontecia...


Mas deixemos desses idílios... Na verdade você já sabe quem sou e o que represento nesse instante. E embora você seja a criatura mais cativante que encontrei nos últimos tempos, eu sei resistir aos seus encantos. O problema é que não quero oferecer resistência... eu não preciso disso! Mas não se trata apenas de mim, não é mesmo? Fico me sentindo meio deslocada... Porque na verdade você nunca me achou... e também nunca me perdeu... Nunca precisou lutar por mim... Mas sempre precisou lutar com seus próprios instintos... e eles parecem ter evoluído... (risos)


Voltemos ao nosso parque... Vinho de lá... queijo de cá... Você deita sua cabeça no meu colo... eu fico ali extasiada de ter você tão perto... Uma hora rimos do que dizemos... numa outra hora, agora sentados lado a lado, ficamos nostálgicos e sérios... Não, Dimitriv, eu não vou te beijar... mas a vontade é tanta... eu sinto o arfar do seu peito... e quando você toca quase sem querer minha mão, eu estremeço... é tão violenta a vontade de estar mais próxima de você, que chega a doer...


É hora de ir embora... quatro horas se passaram... o sol arde acima das nossas cabeças e eu preciso trabalhar de tarde... Você também precisa... O plano era nos vermos e voltarmos para os nossos compromissos, não era? E eu fico aqui decidindo o que fazer a partir de agora... Porque pelo menos na minha mente eu posso dar o final que eu quiser para nós dois... Hummmm... Saímos de mãos dadas... como dois namorados... Nos despedimos na porta do parque... hesitamos na despedida... uma vontade louca de te dar o primeiro beijo... porque não fizemos isso lá dentro, longe dos olhares dos outros? De súbito, você me puxa pra perto... me abraça demoradamente... mas parece que foi só um segundo... Me olha nos olhos... pega minha mão... a beija e diz:

- Foi muito bom encontrá-la... me custa ir... mas é preciso...

- Eu sei... talvez exista entre nós uma cortina de fumaça...

- Por mais etérea que pareça, eu ainda não consigo atravessá-la...

- Eu sei... Obrigada pela caixa... é linda! Adorei e vou lembrar de você toda vez que a olhar...

- Faz de conta que é o baú que guarda nossos segredos...

- Então são pouquíssimos segredos... é só uma caixa de vinho! (rindo)

- Porque não ocultaremos nada um do outro...

- Porque seremos como realmente somos... sem medos de sermos julgados pelos nossos atos, pelos nossos erros e enganos...

- Sim, minha amada... agora vamos... estou no meu limite de resistência...

- E você precisa realmente resistir?

- Preciso... voltar pra casa e pensar, refletir...

- Faça isso, mas não se torture... e sobretudo, não se culpe... não se condene... o que temos é como o florir da primavera! Pense nisso...


Salvador, 04.10.10 22h 32min


PS - No plano real, meu celular acabou de avisar que ele recebeu minha mensagem e que seu celular já pode receber chamadas... Coisa impossível, pelo adiantado da hora... nem tudo na vida é como a gente quer ou planeja...






Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que nao seria tao puritano e tao resistente quando o Dimitriv...
Ia acabar propondo a vc que fóssemos pra aquele castelinho ou para mais além das mangueiras e que, um pouco mais distante dos olhares que fitam o parque, pudesse deixar o seu corpo mais à vontade, dando margem para que os simplórios desejos de beijos enamorados ao sabor da primavera se tornassem os mais vulgares e carnais desejos aquecidos pelo verão...